Fundibulários, também chamados fundeiros, usavam fundas, com quase inacreditável pontaria, para arremessar pedras e outros objetos, não por esporte ou diversão, mas com propósitos bélicos. Eram, portanto, soldados especializados e, por isso, fizeram parte de muitos exércitos na Antiguidade. Tito, por exemplo, ao comandar a conquista e destruição de Jerusalém em 70 d.C., teve fundibulários em suas tropas e, no dizer de Flávio Josefo (¹), marchavam próximo dos lançadores de dardos.
Os projéteis usados por fundibulários não eram, como regra, inocentes pedrinhas de um ou dois centímetros de diâmetro. Aquelas que faziam cair sobre as forças inimigas eram pedras grandes, do tamanho das atuais bolas de golfe e até das de tênis. Como se isso fosse pouco, usavam também objetos pontiagudos e bolas de chumbo. Fode-se facilmente imaginar o estrago que causavam.
Não só na Antiguidade, porém, é que fundibulários tiveram ocupação. No Século XVI, Hernán Cortés e seus soldados, na luta pela conquista do México, provaram na própria carne quão eficientes podiam ser as fundas de guerreiros tlaxcaltecas e astecas. De acordo com Bernal Díaz del Castillo, testemunha ocular que lutou ao lado de Cortés, dos tlaxcaltecas "ao passar enfrentamos grande perigo, porque eram bons flecheiros [...], e também as fundas e pedras que caíam como granizo eram muito más [...]" (²); e, quanto aos astecas, "[...] atiraram tanta vara e pedra com fundas e flechas, que nos feriram daquela vez quarenta e seis dos nossos, e doze morreram das feridas" (³). Quem gostaria de estar sob o efeito dessas chuvas?
(1) Cf. JOSEFO, Flávio. As Guerras Judaicas. Livro V, § 403.
(2) CASTILLO, Bernal Díaz del. Verdadera Historia de los Sucesos de la Conquista de la Nueva España. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
(3) Ibid.
Veja também:
Depois de ler o texto, que muito apreciei, uma questão se me põe: haverá fundibulários da palavra? Se sim, estarão eles em vias de extinção?
ResponderExcluirDeixo-a com esta mochila, Marta.
Fique bem :)
Ora, estou certa da existência, para bem e para mal, dos "fundibulários da palavra". Para bem, se isso significar uso certeiro da linguagem; para mal, se as palavras servirem para ferir, para machucar. Para bem, se os "fundibulários" se servirem da linguagem, já tanto maltratada e menosprezada, para tornar a humanidade um pouco melhor; para mal, se lançarem pedras verbais para causar mais estragos nesses tempos tão difíceis.
ExcluirEstive lá no seu blog. Linda foto das cores do céu no entardecer.