Entre os antigos gregos, sepultar os mortos tinha grande importância. Faziam-no por reconhecerem o significado higiênico dessa prática, e também por respeito com parentes e amigos falecidos. Mas, além disso, entendiam que deixar corpos sem sepultura podia trazer sérios problemas para os vivos: os mortos não sepultados deixariam de ir para o reino de Hades, ficariam vagando pelos lugares que haviam frequentado em vida e incomodariam a quem encontrassem. Como ninguém queria uma coisa dessas, em caso de guerra, após cada batalha, uma trégua era combinada entre os beligerantes para que não faltasse oportunidade de resgatar os corpos dos que haviam tombado em combate.
Tucídides, autor de História da Guerra do Peloponeso (¹) |
As exéquias dos heróis atenienses eram pagas com dinheiro público. Ainda conforme Tucídides, apenas os que morreram na batalha de Maratona (²), em virtude de seus feitos notáveis, foram sepultados no próprio local em que se travara a luta. O decurso da Guerra do Peloponeso (³), contudo, trouxe para Atenas um desgosto adicional. Os sobreviventes da monumental força enviada a lutar na Sicília (⁴), derrotados pelos siracusanos e seus aliados em uma angustiante tentativa de retirada, que também fracassou completamente, deixaram para trás os feridos, os doentes e os mortos que, longe de sua cidade-Estado, não foram recolhidos, não foram sepultados e não receberam as homenagens costumeiras. Talvez tenham tido mais sorte do que os soldados vivos. A esses, depois da captura e de meses de sofrimentos, impôs-se a escravidão.
(1) HEKLER, Anton. Die Bildniskunst der Griechen und Römer. Stuttgart: Julius Hoffmann, 1912, p. 17. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(2) 490 a.C.
(3) 431 - 404 a.C.
(4) 415 - 413 a.C.
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