Esparta foi, na Antiguidade, uma cidade-Estado em que havia regras estritas para quase todos os aspectos da vida. Consequentemente, a morte e os rituais que a cercavam estavam, também, submetidos às leis atribuídas a Licurgo.
Além da mortalidade corriqueira entre os antigos - muitas crianças morriam com pouco tempo de vida, a mortalidade materna era igualmente alta, eram desconhecidas as causas da maioria das doenças e não havia tratamentos eficazes para elas - espartanos, treinados para a guerra e tendo nela a razão de ser da existência, deviam saber que, em um combate, a possibilidade de defrontar a morte era significativamente maior do que ficando em casa e cuidando calmamente da lavoura. Para esparciatas, contudo, essa não era uma opção. As regras relativas aos mortos deviam, pois, em tudo combinar com o estilo de vida dos vivos.
1. Em Esparta era permitido sepultar os mortos dentro da cidade
De acordo com Plutarco (¹), "afugentando as superstições, Licurgo permitiu que aqueles que desejassem poderiam sepultar os mortos dentro da cidade, sendo também admitida a construção de túmulos e monumentos junto aos templos [dos deuses]" (²). Essa disposição atendia a um propósito triplo:
- A proximidade dos túmulos serviria para lembrar aos jovens as virtudes dos antepassados que deveriam ser imitadas;
- Seria afastado o temor de alguma contaminação por tocar os mortos, tão prejudicial na guerra;
- Os jovens perderiam o medo da própria morte, igualmente prejudicial durante os combates que deveriam enfrentar.
2. Era proibido enterrar os mortos com quaisquer objetos
Em muitos lugares da Grécia era tradição colocar uma moeda na boca ou entre os dedos de um morto, para que tivesse com que pagar o transporte até o submundo, ou mundo dos mortos. Segundo Plutarco, ao proibir essa prática entre os espartanos, Licurgo "pretendia afastar a superstição de colocar joias e outros objetos valiosos com os mortos, aos quais não fariam bem algum, mas apenas dano aos vivos" (³).
3. Era permitido colocar uma coroa de folhas de oliveira no corpo a ser sepultado
O ritual praticado em um sepultamento era muito simples: "Os corpos deviam ser envolvidos em um tecido de cor púrpura e coroados com folhas de oliveira. Em seguida, eram enterrados sem outras cerimônias. Não era permitido que se escrevesse sequer o nome do morto na sepultura, a não ser no caso de homens e mulheres [...] que houvessem morrido na guerra" (⁴). Havia, portanto, certo estímulo à morte em combate, visto que era desse modo que alguém se faria lembrado de forma mais nítida por seus concidadãos.
4. A demonstração pública de tristeza por um morto não podia ir além de onze dias
Em conformidade com o que Plutarco escreveu na biografia de Licurgo, "apenas onze dias de choro e lamentação [por um morto] eram permitidos; no duodécimo dia se faziam sacrifícios em honra de Deméter, e desde então, deviam cessar todas as demonstrações públicas de tristeza [...]" (⁵).
Por séculos as leis atribuídas a Licurgo foram estritamente obedecidas em Esparta e, ao que parece, os esparciatas tinham delas muito orgulho. Seriam felizes com elas? Bem, é difícil dizer, mas é fato que, finalmente, foram abandonadas. Talvez isso signifique alguma coisa.
(1) c. 45 - 125 d.C.
(2) PLUTARCO. Vitae parallelae. Os trechos dessa obra aqui citados foram traduzidos por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
(3) Ibid.
(4) Ibid.
(5) Ibid.
Veja também:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Democraticamente, comentários e debates construtivos serão bem-recebidos. Participe!
Devido à natureza dos assuntos tratados neste blog, todos os comentários passarão, necessariamente, por moderação, antes que sejam publicados. Comentários de caráter preconceituoso, racista, sexista, etc. não serão aceitos. Entretanto, a discussão inteligente de ideias será sempre estimulada.