quarta-feira, 3 de julho de 2013

A importância do milho na alimentação no Brasil Colonial

Ao que se sabe, o milho é originário do território onde hoje é o México, e importantes civilizações pré-colombianas dominavam a técnica de seu cultivo e uso na alimentação. No Brasil, foi amplamente cultivado desde os tempos coloniais, sendo mencionado, em documentos da época, frequentemente ao lado de culturas de mandioca e algodão, estas últimas aprendidas com os povos indígenas que viviam em áreas colonizadas por portugueses.
Sabe-se, por exemplo, por informação da Nobiliarchia Paulistana, de Pedro Taques de Almeida Paes Leme, que Amador Bueno (¹) tinha muitos índios escravizados, e que esses cativos eram ocupados em atividades agrícolas, dentre as quais a de cultivar milho:
"Com o trabalho destes homens, ocupados em dilatadas culturas, tinha todos os anos abundantes colheitas de trigo, milho, feijão e algodão."
Além disso - é o próprio Pedro Taques quem observa - o milho parecia ser muito útil na alimentação não apenas de humanos, mas também na de cavalos, e era fornecido a eles, no Brasil, como ração diária:
"...é o que se dá diariamente no Brasil aos cavalos, principalmente na capital de São Paulo, e tem feito ver a experiência a utilidade que recebem desse alimento, que os faz mais briosos, alentados e capazes de aturarem, como aturam, jornadas de duzentas léguas, sem haverem um só dia de descanso." Compreende-se a importância desse fato, em tempos em que quase toda viagem e/ou transporte terrestre de cargas se fazia com o auxílio de tropas de equinos e muares.
Quem, por sua vez, metia-se em expedições que procuravam ouro, não deixava de prover-se de produtos do milho, particularmente da farinha que dele se fazia, havendo quem, para fornecer tais suprimentos, plantasse roças no caminho dos sertanistas. O seguinte trecho é também da Nobiliarchia Paulistana:
"Foi Francisco Pedroso de Almeida o fundador da fazenda chamada Araraquara, do sertão e estrada das minas dos Goiases, onde se estabeleceu com grossas culturas, de cujos frutos, pelas sementeiras de milho e feijão e criação abundante de porcos, se aproveitavam os viandantes daquela comprida estrada, fornecendo-se de todo o necessário para sustento da jornada..."
Excetuando-se o perigo em que viviam tais agricultores, em razão das constantes escaramuças com índios, o ramo de negócio a que se dedicavam era lucrativo. Os esfomeados do ouro muitas vezes chegavam às roças a quase, literalmente, morrer de fome, e dispostos, portanto, a pagar preços exorbitantes por suprimentos alimentícios, dentre os quais o milho era um dos mais destacados.
Nas minas, então, os preços dos alimentos alcançavam as nuvens: de acordo com Antonil, nas chamadas "Gerais", sessenta espigas de milho eram vendidas por nada menos que trinta oitavas de ouro e, por seis bolos feitos com farinha de milho, cobravam-se três oitavas (²).

(1) É o famoso "aclamado" rei em 1640, que, na verdade, recusou a tal aclamação. Veja, sobre isso, a postagem "Sobre a aclamação de Amador Bueno e a interpretação de documentos históricos".


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