A vida dos jograis, músicos ambulantes da Idade Média, não devia ser nada fácil. Antes de mais nada, precisavam desenvolver múltiplas habilidades: tinham de saber tocar e manter adequadamente os instrumentos musicais de que se serviam; deviam, igualmente, saber cantar bem (já que, no âmbito popular, o conceito de música instrumental, como hoje o entendemos, era então desconhecido); era desejável que soubessem compor melodias e fazer versos.
Mas não era só. Precisavam dominar uma variedade de técnicas acrobáticas, com as quais pudessem atrair e entreter o público, fosse em feiras, nas proximidades de igrejas ou mesmo trabalhando para nobres senhores em seus castelos. Truques mágicos também não estavam descartados em seu repertório.
Pois bem, assim qualificados, esses músicos-acróbatas não tinham emprego fixo e, por isso, precisavam procurar seu público indo de um lugar a outro, de modo que seu sustento era incerto. Vê-se, portanto, que estavam longe de desfrutar de prestígio social.
Não eram, via de regra, gente muito estimada. Conselhos municipais tentavam ver-se livres desses ambulantes, e a maioria dos religiosos torcia o nariz ante sua presença.
Muito de seu repertório, essencialmente oral, se perdeu, e, em realidade, não se poderia esperar outra coisa, mas é possível que algumas de suas cantigas, repetidas de boca em boca, tenham passado de uma geração a outra, sobrevivendo assim a obra de algum compositor anônimo muito além dos tempos medievais. Sem dominar as estritas e enfadonhas regras da música "culta" da época, eram, todavia, em sua simplicidade e mesmo em sua rudeza, capazes de expressar de forma autêntica os sentimentos da "gente comum" de seus dias. Suando em penosas tarefas agrícolas, era bem possível que camponeses assobiassem algumas de suas músicas, mais que quaisquer outras.
Não se deve supor, no entanto, que apenas quem queria ser jogral (por escolha ou falta de opção) é que aprendia música. Além de seu uso óbvio no âmbito religioso, a música também era vista como parte essencial da educação da nobreza, indício certo do refinamento que se esperava de gente de alta posição social. Desse modo, era importante saber tocar bem um instrumento musical e cantar com delicadeza, sem descuidar do aprendizado da dança, que estava, de todo modo, bastante associado ao da música. Esses músicos nobres e bem educados eram, porém, amadores. Os verdadeiros profissionais eram, então, os pobres e desprezados jograis.
O renascimento urbano se encarregaria de mudar a situação.
O renascimento urbano se encarregaria de mudar a situação.
Sedentarizando-se, os músicos profissionais iriam ter suas próprias corporações de ofício, ganhariam respeito e credibilidade e passariam a desfrutar de um bom número de privilégios, colocando-se, socialmente, em posições sobremodo mais elevadas que seus antecessores. Foi isso lá pelos fins do Século XIII...
Veja também:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Democraticamente, comentários e debates construtivos serão bem-recebidos. Participe!
Devido à natureza dos assuntos tratados neste blog, todos os comentários passarão, necessariamente, por moderação, antes que sejam publicados. Comentários de caráter preconceituoso, racista, sexista, etc. não serão aceitos. Entretanto, a discussão inteligente de ideias será sempre estimulada.