Escrever era difícil até para Carlos Magno
O fim do Império Romano (no Ocidente) e a gradual ruralização da sociedade contribuíram bastante para que o analfabetismo proliferasse. Escolas e professores particulares eram coisa das cidades, e muito raramente se encontraria isso entre camponeses esfomeados que viviam oprimidos pela expectativa da próxima invasão. O latim, língua do falecido Império, gradualmente restringiu-se aos clérigos e às poucas pessoas mais instruídas, enquanto a população em geral falava os vários idiomas nascidos da miscigenação do latim com as línguas bárbaras. Não deixa de ser curioso, hoje, observar os poucos manuscritos que restaram de tempos em que se tentava grafar essas novas línguas com os caracteres latinos. A realidade, porém, é que escrever tornou-se, mais uma vez, um privilégio de que poucas pessoas desfrutavam. O imperador Carlos Magno, cuja vida transcorreu em anos dos séculos VIII e IX, foi um entusiasta da fundação de escolas. Diz-se, porém, que ele próprio somente aprendeu a ler quando tinha já uns trinta anos, e nunca soube escrever nada mais expressivo que umas poucas garatujas. E, se o grande imperador era assim, que pensar da maioria de seus súditos?
Em boa parte da Idade Média na Europa Ocidental o saber foi cultivado - mas também restrito - aos mosteiros e, mais tarde, às nascentes universidades. E, se posteriormente o Renascimento trouxe à cultura uma lufada de vitalidade, tal fato não foi suficiente para alterar a condição das massas que, em geral, permaneciam na mais crassa ignorância, embora a proliferação de livros impressos - os novos objetos do desejo mesmo entre burgueses - tenha contribuído para tornar desejável a capacidade de ler. Acrescente-se ainda que, no Século XVI, em lugares onde a Reforma Protestante se impôs, surgiu uma certa preocupação em estender aos meninos e meninas do povo a possibilidade da frequência a uma escola, para que, na idade adulta, pudessem, como fiéis, ler a Bíblia por si mesmos.
Tudo isso, no entanto, não mudava muito a situação persistente na maioria das localidades: ser capaz de ler e escrever bem constituía-se ainda e por si só, em uma profissão. Já não eram esses escrevinhadores profissionais chamados "escribas", e sim "escrivães". E, como sempre, a burocracia de Estado era a esponja que os absorvia.
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Excelente texto!
ResponderExcluirEstou acompanhando.
Lamento, pelos que não sabem ler..
Pelo menos no Brasil, parece-me que o grande problema hoje já não é saber ler - a imensa maioria das crianças tem alguma escola por perto, onde se pode estudar. A questão, agora, tem mais a ver com qualidade: vai-se à escola, mas aprende-se muito pouco, daí a multidão inumerável que analfabetos funcionais que há pelo País afora. São capazes de ler as palavras,mas não conseguem apreender-lhes o sentido. Há, portanto, um longo caminho a ser percorrido, não acha?
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