quarta-feira, 10 de julho de 2024

Boiadas no sertão

Pecuária colonial no Nordeste brasileiro


Era assim no Brasil Colonial, particularmente no sertão nordestino: boiadas com duzentas e até trezentas cabeças eram conduzidas à procura de lugar em que fosse possível achar pastagem, e onde houvesse gente interessada na compra dos animais para abate. 
André João Antonil (¹) fez a seguinte descrição do modo como as boiadas seguiam pelo sertão:
"[...] Os que as trazem, são brancos, mulatos e pretos, e também índios, que com este trabalho procuram ter algum lucro. Guiam-se, indo uns adiante cantando, para serem desta forma seguidos do gado; e outros vêm atrás das reses tangendo-as e tendo cuidado, que não saiam do caminho e se amontoem. [...]" (²)
O mesmo autor passa, então, a descrever como eram as marchas de homens e gado pelo sertão, enfrentando o cansaço e a escassez de água:
"[...] As suas jornadas são de quatro, cinco e seis léguas (³), conforme a comodidade dos pastos, onde hão de parar. Porém onde há falta de água, seguem o caminho de quinze e vinte léguas, marchando de dia e de noite, com pouco descanso, até que achem paragem, onde possam parar. Nas passagens de alguns rios, um dos que guiam a boiada, pondo uma armação de boi na cabeça e nadando, mostra às reses o vau, por onde hão de passar." (⁴)  
No auge da produção açucareira voltada à exportação, a pecuária nordestina era vista como atividade secundária e complementar; mas o declínio do açúcar, em parte pela concorrência estrangeira, ao mesmo tempo em que a extração aurífera se expandia no interior do Brasil, fez com que a pecuária, que se adaptara tão bem às difíceis condições naturais do sertão, crescesse em importância, porque era preciso fornecer carne para alimentar os famintos do ouro.

(1) Pseudônimo do jesuíta Giovanni Antonio Andreoni.
(2) ANTONIL, André João (ANDREONI, Giovanni Antonio). Cultura e Opulência do Brasil por Suas Drogas e Minas. Lisboa: Oficina Real Deslandesiana, 1711, pp. 188 e 189.
(3) No Brasil Colonial, uma légua correspondia a aproximadamente seis mil e seiscentos metros.
(4) ANTONIL, André João. Op. cit., p. 189.


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