No processo de purificação empregado nos engenhos coloniais, o açúcar era colocado em formas de barro, assim descritas por Antonil:
"São as formas do açúcar uns vasos de barro queimado na fornalha das telhas, e têm alguma semelhança com os sinos, altas três palmos e meio, e proporcionalmente largas, com maior circunferência na boca e mais apertadas no fim, aonde são furadas, para se lavar e purgar o açúcar por este buraco. Vendiam-se por quatro vinténs, salvo se a falta delas e o descuido de as procurar a seu tempo lhes acrescentasse o valor.
O serem de ruim barro, e mal queimadas, é defeito notável, como também o serem pequenas. As boas são capazes de dar pães de três arrobas e meia." (¹)
Como se sabe, no século XVII holandeses fizeram tentativas de estabelecer-se no Nordeste brasileiro, que era, então, a mais rica região produtora de açúcar. Fracassaram, é verdade, mas, para fazer-lhes justiça, é necessário dizer que demonstraram um interesse artístico e científico pelo Brasil como, até então, os colonizadores portugueses não haviam tido. Com Nassau vieram estudiosos que procuraram observar e compreender a natureza tropical, retratando-a em descrições e imagens, que foram, em alguns casos, publicadas em livros. Uma dessas obras que chegaram a ser editadas foi Historia Naturalis Brasiliae, de Willen Pies (também chamado Piso) e Georg Markgraf. Ora, neste livro há a imagem de um engenho, na qual retrata-se justamente o trabalho de colocação do açúcar nas tais formas de barro, para que fosse purificado (ou purgado, como então se dizia):
Colocação do açúcar em formas de barro, conforme se fazia nos engenhos coloniais (²) |
É interessante observar que o europeu retratado a supervisionar a tarefa não está vestido como um lusitano, mas sim como um holandês!
Uma vez purificado, o açúcar era retirado das formas, apresentando então o aspecto de grandes pães, por isso chamados "pães de açúcar".
Quantos desses pães de açúcar um engenho chegava a produzir semanalmente? É, mais uma vez, Antonil quem responde:
"Faz um engenho real [...], se a cana render bem, cada semana solteira (³), perto e passante de duzentos pães de açúcar, mas se não render, apenas dá cento e vinte." (⁴)
(1) ANTONIL, André João (ANDREONI, Giovanni Antonio). Cultura e Opulência do Brasil por Suas Drogas e Minas. Lisboa: Oficina Real Deslandesiana, 1711, p. 75.
(2) PIES(PISO), Willen et MARKGRAF, Georg. Historia Naturalis Brasiliae. Amsterdam: Ioannes de Laet, 1648.
(3) Dizia-se "semana solteira" aquela que não tivesse dias santos (feriados).
(4) ANTONIL, André João (ANDREONI, Giovanni Antonio). Op. cit. p. 76.
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