terça-feira, 18 de setembro de 2012

A guerra, a diplomacia e os exércitos na Antiguidade

"... a guerra é uma coisa monstruosa e ilógica em tudo. Na sua maneira atual é uma organização técnica superior. Mas inquinam-na todos os estigmas do banditismo original. Sobranceiras ao rigorismo da estratégia, aos preceitos da tática, à segurança dos aparelhos sinistros, a toda a altitude de uma arte sombria, que põe dentro da frieza de uma fórmula matemática o arrebentamento de um schrapnell e subordina a parábolas invioláveis o curso violento das balas, permanecem - intactas - todas as paixões do homem primitivo."
                                                                                                           Euclides da Cunha, Os Sertões

A guerra, no passado, era um acontecimento muito mais frequente do que é hoje, ainda que, em geral, muito menos destrutiva. Qualquer desavença, fosse entre pequenos grupos tribais ou entre grandes impérios, era usualmente resolvida pela força. A diplomacia entrava no jogo quando, sabidamente, um monarca se via muito mais fraco que seu oponente (sem chances, diríamos), precisando negociar, portanto, ainda que ao preço de severa humilhação (os antigos eram muito bons nisso), ou então, o que era mais comum, quando não passava de espionagem disfarçada de boas intenções.
Tudo isso se explica, em parte, pelas enormes dificuldades de comunicação: era muito demorado enviar diplomatas (que iam a pé, ou nas costas de burros, cavalos ou camelos, até mesmo de elefantes), que deviam ser recebidos pelo adversário e, depois de entabuladas negociações, que muitas vezes envolviam a troca de reféns, era preciso informar ao governante que os enviara, que então provavelmente reuniria seus conselheiros, trocaria ideias, mandaria resposta, talvez tentando novas negociações... Era bem mais prático partir logo para as vias de fato.
Assim, o que costumava acontecer é que um monarca somente descobria que estava para ter seus domínios atacados quando as forças rivais já se encontravam muito perto ou mesmo dentro de seu território. A surpresa era, pois, parte da estratégia. Vê-se, de tal  forma, porque a maioria dos grandes autocratas do passado tinha preferência por dispor de um número enorme de homens que podiam ser imediatamente mobilizados em caso de guerra.
O assunto de quão numeroso devia ser um exército colocava-se de forma simples: pequenas tribos e outros agrupamentos menores precisavam pôr em armas tantas pessoas válidas quantas fosse possível - era uma questão de sobrevivência; grandes reinos e impérios costumavam ter exércitos enormes porque só assim se garantiriam contra eventuais revoltas e insurreições, internamente, bem como assegurariam seus domínios em áreas de fronteira, o que significava, quase sempre, empreender novas conquistas - era uma questão de hegemonia.
De qualquer modo, o serviço militar, ao lado de impostos e tributos, era uma imposição que poucos apreciavam. O camponês posto em armas deixava, é óbvio, seus campos por cultivar, o que significava comprometer o suprimento de comida que estaria disponível, e isso era um fator poderoso de instabilidade social. Eis porque, mesmo dispondo de grandes exércitos, alguns monarcas acabavam destronados. Não há dominação que resista a panelas vazias. Tropas de mercenários também não eram uma solução: no Império Romano, durante a fase de decadência, imperadores eram coroados pelo exército apenas para, em pouco tempo, serem assassinados. O motivo? O novo imperador se dispusera a pagar mais, pelo trono, que seu antecessor.
Recurso mais eficaz, ao menos em sociedades com maior participação política (foi o caso de muitas cidades gregas), era exaltar o guerreiro à categoria de herói, admirado pela força e valorizado como defensor da pátria. Não é sem causa que, na Atenas da Democracia, a condição de cidadão, com plenos direitos políticos, era privativa, entre vários outros fatores, daqueles que houvessem prestado o serviço militar todas as vezes que para isso houvessem sido convocados.


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