As comemorações relativas ao centenário da Independência do Brasil, no ano de 1922, tiveram, em muitos sentidos, um aspecto que poderia ser chamado de personalista, ou seja, centrado da figura de determinadas personagens que eram apontadas como vitais no processo de independência.
Na verdade, não se poderia esperar coisa muito diferente disso: os líderes políticos, então no poder, faziam uso de figuras do passado, associando sua própria imagem a elas, para, de algum modo, reforçar a legitimidade de seus atos, em um momento no qual as contestações proliferavam, país afora, face ao óbvio desgaste tanto de políticos quanto de instituições.
Na postagem anterior, por exemplo, está uma moeda, cunhada na época, em que a figura do presidente da República, Epitácio Pessoa, aparece ao lado da imagem do primeiro imperador e proclamador oficial da Independência, D. Pedro I (essa fórmula deve ter dado algum resultado, pois acabaria repetida outras vezes, em outras situações). Vejam, senhores leitores, não se trata aqui de descaracterizar ou negar a atuação individual de quem quer que seja - o que está em questão é o uso da imagem desta ou daquela personagem, dita histórica.
Várias publicações, tanto jornais quanto revistas, dedicaram muitas páginas e, em alguns casos, edições inteiras à data; a revista paulistana A Cigarra, por exemplo, trouxe, em três páginas, primeiro os "Grandes Vultos da Independência" (¹), depois os chefes de Estado, divididos entre os do Império e os da República, como se pode ver abaixo:
Iniciando a galeria dos chefes de Estado em 1808, a revista incluiu a imagem do rei de Portugal D. João VI (que, em 1808, era apenas príncipe-regente, pois ainda vivia a rainha D. Maria I); não se busca a exatidão cronológica, apenas alguma tentativa de hierarquia em termos de importância para o Brasil, já que os imperadores vêm primeiro, e então D. João VI e os regentes do período 1831-1840. Já entre os do período republicano, o lugar central é ocupado pelo proclamador da República, Marechal Deodoro da Fonseca.
O detalhe é que, a despeito da intenção laudatória, o resultado acabou saindo um tanto divertido, talvez até cômico...
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Um outro aspecto é que a comemoração do centenário foi útil, também, a quem soube explorá-la comercialmente (isso também não é novidade e não constitui, por si, nenhum pecado, dentro dos limites da legislação, naturalmente). Veja-se, como exemplo, o anúncio abaixo, que apareceu também em A Cigarra, edição de 15 de setembro de 1922 (²):
Ou este outro, que apareceu no jornal Commercio de Santos (³), na data mesma do centenário, 7 de setembro de 1922:
(1) A CIGARRA, 1º de outubro de 1922, Ano X, nº 193.
(2) A CIGARRA, 15 de setembro de 1922, Ano X, nº 192.
(3) COMMERCIO DE SANTOS, quinta-feira, 7 de setembro de 1922.
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