segunda-feira, 22 de julho de 2024

Como era a comitiva que conduzia diamantes do Distrito Diamantino ao Rio de Janeiro durante o governo joanino

Comboio de diamantes, de acordo com Rugendas (¹)

A segurança no transporte de ouro e diamantes que pertenciam à Coroa, desde as minas até o Rio de Janeiro, devia, necessariamente, ser reforçada. Mas o que significaria isso no tempo em que as estradas eram pouco melhores que trilhos, cercadas por vastidões de mato e árvores, onde era muito fácil que gente de más intenções se escondesse, sabendo que a força militar que fazia a escolta nem sempre era tão numerosa e equipada como  a situação requeria?
Há um relato interessante do barão de Eschwege que explica muito bem como era a comitiva que escoltava os diamantes tão desejados pela Coroa. 
"A produção anual é encerrada em uma bela caixa forrada de marroquim vermelho, preso por tachas amarelas. É nessa caixa que os diamantes são enviados para o Tesouro do Rio de Janeiro, acompanhados durante toda a viagem por um empregado escolhido pelo Intendente, que lhe dá por escolta forte destacamento do corpo de cavalaria e dos pedestres. 
A caixa dos diamantes vai dentro de uma canastra, que o comissário leva consigo. Alguns cavalarianos partem à frente, a uma certa distância, seguidos logo depois por alguns pedestres, que conduzem a mula, coberta de uma manta onde se veem as armas reais. Logo atrás seguem outros pedestres, precedendo imediatamente o comissário, que nunca perde de vista o cargueiro e é seguido por novos cavalarianos, que fecham a marcha." (²)
Eschwege deve ter examinado o assunto com os próprios olhos porque veio ao Brasil por solicitação do governo joanino (³), e permaneceu até o início de 1821, tempo suficiente, portanto, para verificar o que acontecia. Talvez tenha achado graça na pompa dessa tensa remessa anual, quando, mais importante que qualquer outra coisa, seria zelar pela segurança do que se transportava. O contrabando de diamantes, contudo, geralmente ocorria por outras rotas. Era do local de extração que as pedras extraviadas sumiam, para que Sua Majestade jamais pusesse nelas as suas reais mãos.

(1) Cf. RUGENDAS, Moritz. Voyage Pittoresque dans le Brésil. Paris: Engelmann, 1827. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog. 
(2) ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig von. Pluto Brasiliensis, trad. Domício de Figueiredo Murta. Brasília: Senado Federal, 2011, p. 497.
(3) Wilhelm Ludwig von Eschwege (1777 - 1855) era especialista em minas. A ideia de D. João era que estudasse o que podia ser feito para reativar a produção aurífera no Brasil, que, nesse tempo, estava em notável declínio. 


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