quarta-feira, 31 de julho de 2024

Tesourinhas

Não se trata aqui, leitores, de instrumentos cortantes, e sim de uma avezinha muito simpática (Tyrannus savana), que o brigadeiro Cunha Matos avistou ao viajar pelo interior do Brasil pouco depois da Independência, na região do Rio Tesouras em Goiás: 
"[...] Ao lado esquerdo nasce um córrego, que encostado a um cordão de morros vai entrar no rio de Tesouras. Os caminhos desta marcha são extremamente pedregosos, e tudo deserto. [...]" (¹).
Foi então que passou a falar do pássaro que o encantou:
"[...] A geração humana parece estar morta por estes lugares, mas a ornitologia oferece uma raridade bem digna da meditação do naturalista. Neste deserto (²) há um pequenino pássaro preto [...], a cauda é forcada, e as penas compridas cruzam-se em forma de tesouras, e por este nome é conhecido. O passarinho quando bate as asas dá estalos com a cauda. [...] Esta pequena ave deu o nome ao rio e extinto arraial de Tesouras." (³) 
Felizmente a ave não é tão rara quanto Cunha Matos deve ter suposto. E, para leitores que não a conhecem, vão aqui duas fotos, que fiz há algum tempo.

Tesourinha

Tesourinha no ninho

(1) MATOS, Raimundo José da Cunha. Itinerário do Rio de Janeiro ao Pará e Maranhão Pelas Províncias de Minas Gerais e Goiás. Rio de Janeiro: Typ. Imperial e Constitucional, 1836, p. 178.
(2) Cunha Matos falava em "deserto" com o sentido de lugar pouco habitado, não de uma região árida. 
(3) MATOS, Raimundo José da Cunha. Op. cit., p. 178.


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