quarta-feira, 24 de julho de 2024

Centauros

Na mitologia grega, centauros eram seres que tinham o corpo parcialmente humano - tronco, braços e cabeça - e o restante, de equinos. Os espanhóis comandados por Hernán Cortés que invadiram o Império Asteca devem ter-se achado mais ou menos centáuricos, ou os indígenas que os combatiam é que isto pensaram deles, ainda que nada soubessem sobre os seres mitológicos da Grécia Antiga.
O soldado Bernal Díaz del Castillo, que acompanhou Cortés em sua aventura de conquista e destruição do Império Asteca, registrou isto em suas memórias da guerra, ao falar de como os povos indígenas reagiam ao ver cavalos:
"[...] Vimos chegar os que combatiam a cavalo, e como aqueles esquadrões [indígenas] estavam envolvidos em nos fazer guerra, não perceberam tão prontamente os que vinham a cavalo, porque vinham pelas costas; e como o campo era plano e os cavaleiros montavam muito bem, e alguns dos cavalos eram agitados e corriam muito, deram-lhes uma boa carga, usando as lanças como queriam (¹) e como a ocasião requeria [...]. Assim os índios acreditaram que o cavalo e o cavaleiro formavam um só corpo, porque nunca antes haviam visto cavalos [...]." (²) 
O caso é que os homens que acompanhavam Cortés nada tinham de centauros, não eram seres mitológicos e muito menos divinos. Como os povos indígenas logo iriam descobrir, eram bastante humanos, com os piores objetivos fundados na cobiça e na sede por enriquecimento rápido. Segundo Bernal Díaz del Castillo, pelo menos oitocentos indígenas morreram nesse que foi o primeiro combate na guerra de conquista. É pouco provável que alguém tivesse se dado ao trabalho de contar os corpos dos que morreram, mas, como gente prática em guerras, talvez não errassem na estimativa, ainda que seja possível admitir algum exagero para valorização da façanha.

(1) A cavalaria costumava ir ao combate tendo lanças como arma, que cada cavaleiro era treinado a conduzir. 
(2) CASTILLO, Bernal Díaz del. Verdadera Historia de los Sucesos de la Conquista de la Nueva España. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias


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