domingo, 28 de abril de 2013

Consequências ruins da mineração no Brasil Colonial

É notável o fato de que, desde que começaram a colonizar o Brasil, tudo o que portugueses mais desejavam era encontrar jazidas de metais preciosos, de modo a dar alívio à empobrecida Coroa lusitana. O ouro, porém, demorou a aparecer (ou melhor, a ser encontrado). As "minas" trabalhadas desde fins do século XVI até meados do XVII proporcionavam magros resultados. No entanto, quando finalmente jazidas de real importância foram encontradas, as consequências que se apresentaram não foram, em sua totalidade, favoráveis aos colonos.
Uma dessas consequências foi, sem dúvida, uma elevação geral nos preços das mercadorias na Colônia, e não apenas nas regiões mineradoras. Antonil, por exemplo, refere em sua notável obra Cultura e Opulência do Brasil por Suas Drogas e Minas:
"Mas o ter crescido tanto nestes anos o preço do cobre, ferro e pano e do mais de que necessitam os engenhos, e particularmente o valor dos escravos, que os não querem largar por menos de cem mil réis, valendo antes quarenta, e cinquenta mil réis os melhores, é a principal causa de haver subido tanto  o açúcar [...], depois de descobertas as minas de ouro, que serviram para enriquecer a poucos e para destruir a muitos [...]." (¹)
São Paulo, povoação ainda pequena, na época, sofreu muito com isso: de economia agrícola, tocada à base da mão de obra de indígenas escravizados, viu-se em penúria face à alta nos preços dos gêneros mais indispensáveis. Afinal, tudo o que se produzia destinava-se a abastecer as Minas, nas quais alimentos, vestuário, escravos, eram comprados e vendidos, literalmente, a peso de ouro. Quem iria querer comerciar a preços módicos em qualquer outra localidade? (²)
As migrações em massa constituíram-se em outra pesada consequência: esfomeados por ouro arriscavam tudo, das posses à vida, na esperança de ficarem ricos. Vinha gente do Reino, vinham estrangeiros (ainda que fosse proibido), vinha gente de outros lugares do Brasil. Consequentemente, despovoavam-se as vilas, escasseavam os braços para a lavoura, diminuía a produção agrícola. Mais um elemento, portanto, para elevar os preços dos gêneros de subsistência.
"E para que não fique este Estado do Brasil sem algum exemplo dos muitos em que a soberba e as riquezas têm feito estragos, reparai e notai com atenção. Ide a Pernambuco, passai ao Rio de Janeiro, subi a São Paulo, entrai nesta Cidade (³), correi estas vilas e seus recôncavos: vereis a quantos tem a soberba e os interesses feito notáveis destroços. A uns, arrimar bastões, a outros, largar ginetes, a muitos, encostar bengalas, a alguns, deixar alabardas, e fugirem muitos soldados, despejar engenhos, desamparar fazendas. E se perguntardes a essas ruínas quem lhes causou tão lastimosos estragos, vos responderão em ecos essas arruinadas paredes e medonhas fornalhas dos engenhos que tudo lhes procedeu da soberba e demasiada ambição." (⁴)
Medidas adotadas com o fito de deter os deslocamentos populacionais fracassaram completamente. Como mais tarde escreveria Varnhagen: "Não há diques que valham contra estas ondas de gente, que vão com passaportes ou sem eles, onde o seu melhor-estar os chama." (⁵)
 
(1) ANTONIL, André João (ANDREONI, Giovanni Antonio). Cultura e Opulência do Brasil por Suas Drogas e Minas. Lisboa: Oficina Real Deslandesiana, 1711, p. 95.
(3) Refere-se a Salvador, então chamada Cidade da Bahia.
(4) PEREIRA, Nuno Marques. Compêndio Narrativo do Peregrino da América. Lisboa: Oficina de Manoel Fernandes da Costa, 1731, p. 18.
(5) VARNHAGEN, F. A. História Geral do Brasil vol. 2, 2ª ed. Rio de Janeiro: Laemmert, 1877, p. 894.


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