Os senhores de engenho frequentaram, durante bastante tempo, o topo da pirâmide social no Brasil, mas não foram os únicos a lucrar com a produção e exportação de açúcar. Havia uma série de outras atividades, relacionadas à produção açucareira, que podiam ser bastante lucrativas. Dentre elas, estavam o cultivo de cana-de-açúcar, empreendido pelos chamados "lavradores" que vendiam a safra para algum engenho, a construção de barcos destinados ao transporte fluvial do açúcar até os portos e a fabricação de caixas, nas quais o açúcar era acondicionado para exportação. Sobre essa última atividade, os Diálogos das Grandezas do Brasil (¹) nos informam que:
- Havia gente especializada em vender as ditas caixas aos senhores de engenho;
- As caixas eram fabricadas mediante trabalho escravo;
- A madeira usada para as caixas devia ser mole e fácil de cortar.
"E os próprios moradores são porventura os que lavram e serram essas madeiras?" (²)A resposta de Brandônio é bastante reveladora sobre as condições sociais no Brasil do começo do Século XVII:
"Não, porque a gente do Brasil é mais afidalgada do que imaginais; antes a fazem serrar por seus escravos, e há homem que faz serrar em cada ano mil e dois mil caixões de açúcar, que vendem aos senhores de engenho [...]." (³)Volta a falar Alviano:
"E de que paus se lavram essas madeiras para caixões?" (⁴)Brandônio explica:
"Os caixões se fazem de [...] mongubas, buraremas, visgueiro, pau-de-gamela, e um pau que chamam de-alho, e outro branco; e dos tais há diversas castas, porque para caixões se busca madeira mole, por ser mais fácil de serrar." (⁵)Não era, portanto, apenas na lavoura de cana-de-açúcar ou nas moendas e demais instalações dos engenhos que o sangue e o suor dos escravos faziam funcionar a economia colonial. Também no manejo das serras para corte das árvores e fabricação das caixas, bem como em muitas outras tarefas, era a força de trabalho dos cativos, quer indígenas, quer de origem africana, que, em grande parte, ainda que não exclusivamente, movia a máquina colonial, da qual resultaria o Brasil que hoje conhecemos.
(1) A autoria é atribuída, com razoável probabilidade, a Ambrósio Fernandes Brandão, que teria escrito os Diálogos no começo do Século XVII.
(2) BRANDÃO, Ambrósio Fernandes. Diálogos das Grandezas do Brasil. Brasília: Edições do Senado Federal, 2010, p. 186.
(3) Ibid.
(4) Ibid.
(5) Ibid.
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