quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Como era feito o plantio de cana-de-açúcar no Brasil Colonial

O Século XVIII já caminhava para o final quando José Gomes Caetano escreveu a sua Memória Sobre a Cultura e Produtos da Cana-de-Açúcar. Pretendia, com ela, mostrar as deficiências dos métodos até então empregados, tanto na lavoura da cana quanto na fabricação de açúcar e aguardente, propondo alternativas mais rentáveis. Assim é que hoje é possível ter uma visão nítida do modo pelo qual a cana-de-açúcar era plantada em terras do Brasil. Escreveu ele:
"Cada plantador de cana, segundo as suas faculdades (¹), vai com dez, vinte, quarenta ou mais escravos com enxadas, limpar todas as ervas de uma certa porção de terra, onde quer fazer aquilo a que se chama partido." (²)
Esse era o início de todo o processo. Mas deve-se notar que somente valia em caso de terras já anteriormente cultivadas. Se, no entanto, o plantio devesse ocorrer em área de mata virgem, outros seriam os procedimentos. Mas retornemos às explicações de José Caetano Gomes:
"As plantas, ervas ou capins arrancados ou cortados com a enxada, são sacudidos da terra pelos mesmos escravos, que trabalham enfileirados (...). Depois da terra capinada ou limpa de plantas, vão os escravos abrir covas com a mesma enxada, cujas covas são uma espécie de regos de duas a três polegadas de profundidade, na distância uns dos outros de um palmo a palmo e meio (...). São lançados nestes regos duas estacas de cana de palmo e meio de comprido, e se cobrem com a mesma terra que se tirou da cova." (³)
Didaticamente, portanto, o método empregado para plantio de cana-de-açúcar no Brasil Colonial podia ser assim resumido:
1. Dez a quarenta escravos limpavam o terreno;
2. Os mesmos escravos abriam covas com as enxadas;
3. Em cada cova eram postas duas estacas;
4. Cada cova era coberta com terra.
A partir daí, esperava-se que a natureza cooperasse e fizesse o restante, até que a cana estivesse crescida para a safra. Costumava-se, ao longo da fase de crescimento, mandar que escravos fizessem duas "capinas", ou seja, que removessem o mato. Não estava nos hábitos qualquer tipo de adubação. Tudo muito simples e rudimentar, conduzindo a perdas consideráveis na produção, já que, de acordo com as ideias de José Caetano Gomes, o espaço deixado entre as plantas era insuficiente e as ferramentas em uso eram demasiado antiquadas.

(1) De acordo com sua capacidade econômica que, no Brasil, era medida pelo número de escravos de que se dispunha.
(2) GOMES, José Caetano. Memória Sobre a Cultura e Produtos da Cana-de-Açúcar. Lisboa: Casa Literária do Arco do Cego, 1800, p. 2.
(3) Ibid., pp. 2 e 3.
______________________________________________

Um salto no tempo




Área de cultivo de cana-de-açúcar (após queimada) no interior do Estado de São Paulo. Queimar antes do corte ainda é uma prática frequente nos canaviais, sob a alegação de que facilita o trabalho e evita a presença de animais peçonhentos que poderiam ferir os trabalhadores. No entanto, acarreta sérios danos ambientais. No Século XXI.


Veja também:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Democraticamente, comentários e debates construtivos serão bem-recebidos. Participe!
Devido à natureza dos assuntos tratados neste blog, todos os comentários passarão, necessariamente, por moderação, antes que sejam publicados. Comentários de caráter preconceituoso, racista, sexista, etc. não serão aceitos. Entretanto, a discussão inteligente de ideias será sempre estimulada.