Parte de uma pequena moenda muito antiga para cana-de-açúcar |
A ideia que se tem sobre o trabalho nos engenhos que, no passado, eram movidos à força de animais (chamados "engenhos-trapiches") é de que tudo era feito morosamente, com burros, mulas ou bois em movimento lento e constante. Ora, se dermos crédito ao que, no final do Século XVIII, escreveu José Caetano Gomes, a realidade era bem outra.
Em época de safra, os engenhos trabalhavam à maior velocidade possível, para evitar que se perdesse a cana já colhida. De costume, as moendas funcionavam dia e noite. Os animais eram, sob ação contínua do chicote, postos a girar a moenda à máxima velocidade, resultando, algumas vezes, em acidentes:
"Os animais no seu giro, circulando as moendas, estorvam a passagem aos condutores da cana, que algumas vezes sucede serem atropelados." (¹)
Esse era apenas um dos riscos à integridade física de quem trabalhava nos engenhos. O maior deles, comum aos engenhos reais e trapiches, era para o escravo ou escrava que devia fazer a cana passar pela moenda. Conta o mesmo José Caetano Gomes:
"A mesa é muito baixa, e como o escravo, curvando-se um pouco, chega com as mãos à moenda, onde as costuma ter para amparar e empurrar as partes mínimas da cana, a que se chama bagaço, é causa de acidentes e de muitos escravos ficarem sem as mãos, o que todos os anos sucede em um ou outro engenho." (²)
Na lógica dos senhores, animais e escravos eram parte dos custos indispensáveis à produção daquilo que, de fato, interessava: açúcar e aguardente. Daí é que vinham os lucros. A morte de um animal por excesso de trabalho, a invalidez de um escravo atropelado ou que tivera uma mão amputada só interessavam ao senhor à medida que geravam despesas para sua substituição. Entretanto, animais não eram muito caros e escravos, pensavam os senhores, existiam para trabalhar mesmo. Se não ficassem inválidos por acidente, podiam morrer de uma doença qualquer. Não eram, portanto, nada para causar muita dor de cabeça a um típico senhor de engenho do Período Colonial.
(1) GOMES, José Caetano. Memória Sobre a Cultura e Produtos da Cana-de-Açúcar. Lisboa: Casa Literária do Arco do Cego, 1800, p. 19.
(2) Ibid., p. 32.
Em época de safra, os engenhos trabalhavam à maior velocidade possível, para evitar que se perdesse a cana já colhida. De costume, as moendas funcionavam dia e noite. Os animais eram, sob ação contínua do chicote, postos a girar a moenda à máxima velocidade, resultando, algumas vezes, em acidentes:
"Os animais no seu giro, circulando as moendas, estorvam a passagem aos condutores da cana, que algumas vezes sucede serem atropelados." (¹)
Esse era apenas um dos riscos à integridade física de quem trabalhava nos engenhos. O maior deles, comum aos engenhos reais e trapiches, era para o escravo ou escrava que devia fazer a cana passar pela moenda. Conta o mesmo José Caetano Gomes:
"A mesa é muito baixa, e como o escravo, curvando-se um pouco, chega com as mãos à moenda, onde as costuma ter para amparar e empurrar as partes mínimas da cana, a que se chama bagaço, é causa de acidentes e de muitos escravos ficarem sem as mãos, o que todos os anos sucede em um ou outro engenho." (²)
Na lógica dos senhores, animais e escravos eram parte dos custos indispensáveis à produção daquilo que, de fato, interessava: açúcar e aguardente. Daí é que vinham os lucros. A morte de um animal por excesso de trabalho, a invalidez de um escravo atropelado ou que tivera uma mão amputada só interessavam ao senhor à medida que geravam despesas para sua substituição. Entretanto, animais não eram muito caros e escravos, pensavam os senhores, existiam para trabalhar mesmo. Se não ficassem inválidos por acidente, podiam morrer de uma doença qualquer. Não eram, portanto, nada para causar muita dor de cabeça a um típico senhor de engenho do Período Colonial.
(1) GOMES, José Caetano. Memória Sobre a Cultura e Produtos da Cana-de-Açúcar. Lisboa: Casa Literária do Arco do Cego, 1800, p. 19.
(2) Ibid., p. 32.
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