terça-feira, 12 de outubro de 2021

A experiência em mineração dos escravos africanos foi decisiva para a extração aurífera colonial

Alguns dos descobridores de ouro no Brasil Colonial não estavam procurando metais preciosos. Procuravam, sim, indígenas para aprisionar e escravizar. De caminho, acabaram topando com ouro, mas desconheciam técnicas de mineração e não tinham ferramentas apropriadas para a extração do mineral. Mesmo entre os que explicitamente procuravam metais preciosos não havia grande conhecimento do ramo. Em Pluto Brasiliensis, Wilhelm Ludwig von Eschwege (¹) assim explicou o que faziam: "As primeiras descobertas de ouro [...] tiveram lugar mais nos córregos do que nos rios. Os faiscadores [...] contentavam-se com processos primitivos, ou possivelmente, não conheciam outros melhores. Limitaram-se a extrair, por meio de pequenas vasilhas, as areias dos córregos, catando com os dedos os grãos visivelmente maiores. [...]" (²).
Ninguém poderia esperar resultados esplêndidos com método tão primitivo. Melhorias foram introduzidas, porém, quando escravos trazidos da África, que conheciam técnicas de mineração, foram levados às áreas onde se encontrara ouro. Ainda conforme Eschwege, foram estes os progressos devidos aos escravizados: "Deve-se principalmente aos negros a adoção das bateias de madeira, redondas e de pouco fundo, de dois a três palmos de diâmetro, que permitem a separação rápida do ouro da terra, quando o cascalho é bastante rico. A eles se devem, também, as chamadas canoas, nas quais se estende um couro peludo de boi ou uma flanela, cuja função é reter o ouro, que se apura depois em bateias" (³).
Com modificações proporcionais à área a ser minerada, as técnicas introduzidas pelos escravos foram bastante utilizadas, até que a mecanização de alguns processos ganhasse espaço, a despeito da resistência entre os proprietários de jazidas auríferas. Já entre os faiscadores (⁴), fossem escravos ou livres, o modo de trabalho dos africanos persistiu ainda por muito tempo, em razão da simplicidade e pouca exigência de equipamentos e recursos.

(1) Especialista em minas, veio ao Brasil a convite do governo joanino, que pretendia revitalizar as minas. 
(2) ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig von. Pluto Brasiliensis. Brasília: Senado Federal, 2011, p. 251.
(3) Ibid., pp. 251 e 252.
(4) Pessoas que procuravam ouro isoladamente, trabalhando por conta própria em áreas consideradas pouco promissoras, que não haviam sido repartidas entre grandes mineradores.


Veja também:

2 comentários:

  1. Muito interessante. O que a Marta sabe!

    Um bom resto de semana :)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A curiosidade faz a gente investigar muita coisa. Este blog é, em parte, reflexo disso.

      Excluir

Democraticamente, comentários e debates construtivos serão bem-recebidos. Participe!
Devido à natureza dos assuntos tratados neste blog, todos os comentários passarão, necessariamente, por moderação, antes que sejam publicados. Comentários de caráter preconceituoso, racista, sexista, etc. não serão aceitos. Entretanto, a discussão inteligente de ideias será sempre estimulada.