Em 1º de maio de 2012, quando este blog tinha pouco mais de dois anos de existência, postei um texto sobre a pelota, barquinho muito simples, até improvisado, que se empregou durante largo tempo no Brasil para a travessia de rios. Ia nele uma pessoa que não queria entrar na água, fosse por não saber nadar ou para não molhar a roupa. Podiam ir também vários objetos e mercadorias.
Com a pelota não eram usados remos: um bom nadador entrava na água e, com auxílio de uma corda, conduzia a curiosa embarcação de um lado a outro do rio, conforme explicou o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, ele próprio transportado em uma delas: "A pelota, nome dado a estas pirogas, é simplesmente um couro cru ligado nas quatro pontas e que, desse modo, forma um barco que se pode confundir, pela aparência, com as sacolas de papel onde se põem biscoitos. Enche-se a pelota de objetos, ata-se nela uma corda ou tira de couro; um homem, a nado, prende a corda entre os dentes e faz passar assim a piroga. [...]" (¹).
Dito assim, os leitores poderão pensar que pelotas foram usadas até as primeiras décadas do Século XIX, e não além. Nada disso! De acordo com o Visconde de Taunay (²), estiveram em uso por tropas brasileiras, na Província de Mato Grosso, durante a Guerra do Paraguai:
"Esta corixa (³) dava nado em toda sua extensão, obrigando-nos a fazer pelotas, que deviam transportar nossas cargas. Nada mais expedito: um couro bem seco, levantado nas quatro pontas, que se ligam por cordéis ou tiras, recebe os pesos que são solidamente amarrados, de modo a formarem um sistema imóvel, em cima do qual assenta-se o passageiro, como melhor puder. Depois de lançada à água com todo o cuidado, atira-se um nadador à frente da pelota, levando entre os dentes a cordinha que a guia, ao passo que um segundo ajuda a mantê-la na boa direção, empurrando-a de quando em quando." (⁴)
Não devia ser uma viagem confortável. Era uma solução simples, todavia, para as tropas que haviam sido enviadas, com pouquíssimos recursos, ao combate em uma região para a qual não havia mapas confiáveis, sem estradas, muitas vezes até sem trilhas, por rústicas que fossem, e cujas condições naturais - relevo, hidrografia, vegetação, clima - eram quase desconhecidas.
(1) SAINT-HILAIRE, A. Viagem ao Rio Grande do Sul. Brasília: Senado Federal, 2002, p. 327.
(2) Era um jovem oficial quando participou da Guerra do Paraguai.
(3) No vocabulário local, designava um canal que dava acesso a um rio.
(4) TAUNAY, Alfredo de Escragnolle. Cenas de Viagem. Rio de Janeiro: Typographia Americana, 1868, p. 37.
Veja também:
De pelota só tinha a noção, em particular, dum jogo típico do País basco, e duma bola em geral.
ResponderExcluirO que eu aprendo por aqui. Muito grato, Marta.
Fique bem :)
Acredite: a pelota (falo do jogo) já foi muito popular no Brasil, lá no começo do Século XX, quando foi trazida por imigrantes. Como outros esportes, foi perdendo espaço, à medida que o futebol tomou conta da cena.
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