Jacinto (Hyacinthus orientalis) |
Certo dia, enquanto praticavam esse esporte reconhecidamente perigoso, um disco lançado por Apolo atingiu Jacinto na cabeça, fazendo-o ir ao chão. Em desespero, o deus notou que havia sangue a escorrer da fronte do amigo, que, em pouco tempo, morreu. Do sangue de Jacinto, dizia a tradição helênica, nasceu uma flor, à qual Apolo, choroso, atribuiu o nome do amigo que acabara de perder.
Essa lenda, em sua simplicidade, é bastante reveladora quanto àquilo que os antigos gregos criam, em relação às felizes divindades do Olimpo. Primeiro, nem mesmo os deuses, a quem supunham imortais, escapavam ao fatalismo, ao destino imutável, que os gregos entendiam pautar a existência dos homens. Além disso, ainda que poderosos, os deuses estavam longe da onipotência: o desastrado Apolo que, sem qualquer intenção perversa, matara o amigo Jacinto, não foi capaz de trazê-lo de volta à vida. Finalmente, ao explicar a origem de árvores, flores, e uma infinidade de outras coisas por meio de episódios relacionados aos deuses, os gregos não estavam só fazendo poesia. Essas eram suas crenças religiosas. A nós, que buscamos e encontramos na ciência a explicação para os fenômenos naturais, é que suas lendas, umas alegres e até cômicas, outras dolorosamente trágicas, soam poéticas. Exceto pela imortalidade que caracterizava os habitantes do Olimpo, deuses e homens eram muito parecidos.
(*) Há alguns questionamentos quanto à verdadeira flor que a lenda evoca, mas o Hyacinthus orientalis não é, ao menos no aspecto, incompatível, ainda que, em sua forma atual, talvez não seja exatamente a espécie que os antigos gregos conheciam.
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