A expressão "mundo habitado" foi usada por vários autores da Antiguidade, mas, se não for devidamente compreendida por leitores de hoje, pode levar a ideias distorcidas.
O melhor, portanto, é deixar que fale Estrabão (¹), que escreveu amplamente sobre os conhecimentos geográficos dos gregos e romanos de seus dias. "Chamamos mundo habitado", afirmou ele, "àquele que habitamos e conhecemos" (²). Fica evidente, portanto, que, com o uso dessa expressão, não havia nenhum propósito de abarcar a Terra em sua totalidade, cuja forma, aliás, ainda era alvo de discussões, embora as pesquisas de Eratóstenes já fossem amplamente conhecidas, inclusive pelo próprio Estrabão, que, em sua Geografia, fez referência a elas.
Estrabão achava que o "mundo habitado" era "cercado pelo mar, tal qual uma ilha" (³), e que fora dele podia haver outras áreas habitadas, mas não por homens como os greco-romanos e outros povos de áreas próximas. Esse ponto de vista tinha como pressuposto a ideia de que a humanidade somente poderia viver em regiões temperadas, e, admitindo que houvesse na Terra outras áreas (⁴), apenas seres que, na aparência, fossem diferentes dos humanos conhecidos é que poderiam nelas viver. Ficava, assim, aberta a porta para a imaginação.
(1) c. 63 a.C. - 24 d.C.
(2) ESTRABÃO, Geografia, Livro I.
(3) Ibid., Livro II. Os trechos da Geografia de Estrabão citados nesta postagem foram traduzidos por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
(4) Estrabão considerava a existência de uma "zona tórrida" e tinha conhecimento de uma "região ártica", além da "região temperada", na qual vivia.
(4) Estrabão considerava a existência de uma "zona tórrida" e tinha conhecimento de uma "região ártica", além da "região temperada", na qual vivia.
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