segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Viagens nos tempos coloniais

Se, no passado, as notícias corriam mundo bem devagar, é também verdade que viajar constituía-se, quase sempre, em uma grande aventura. Qualquer viagenzinha que hoje fazemos, por via aérea, em trinta ou quarenta minutos, podia levar mais ou menos uma semana. Que dizer, então, das viagens mais longas?
Embarcações a vela em mar tempestuoso (²)
Sabe-se, por exemplo, que durante a maior parte do século XVI, apenas um navio fazia, anualmente, a rota entre a Capitania de São Vicente e a Europa. Excluem-se, por suposto, eventuais viagens feitas por piratas e corsários.
Além disso, a navegação a vela tinha seus inconvenientes: não era em qualquer época do ano que se podia viajar. No século XVII considerava-se mais adequado que os navios que iam do Brasil para o Reino iniciassem a rota nos meses de agosto ou setembro. Lembremo-nos de que, diante da fúria do oceano, qualquer nau ou caravela da era de ouro das grandes navegações tinha uma resistência que podia lembrar a de uma casca de ovo, ao menos para quem viajava dentro dela.
Em se tratando de viagens terrestres, sabe-se que, no início do século XVIII, uma viagem de São Paulo às Minas Gerais levava cerca de dois meses; foi o que relatou Antonil:
"Gastam comumente os paulistas desde a vila de São Paulo até as Minas Gerais dos Cataguás pelo menos dois meses..." (¹)
Voltando ao mar, a esquadra que saiu de Portugal em novembro de 1807 com destino ao Brasil, trazendo a família real portuguesa, muitos nobres e mais gente que conseguiu embarcar, era composta por cinco fragatas, dois brigues, duas charruas e sete naus. Acompanhavam-na muitas outras embarcações mercantes. Toda essa gente chegou ao Brasil em janeiro de 1808, depois de uma viagem nada confortável.
Hoje temos a ideia de que viajar pode ser uma ótima opção de lazer. Mas nem sempre foi assim. Viagens eram cansativas, longas, desconfortáveis e, principalmente, arriscadas. Pouca gente tinha recursos e coragem para meter o pé na estrada e ir conhecer o mundo. Não é estranho, portanto, que, para a maioria das pessoas, o mundo fosse mesmo muito pequeno. Um ser humano comum podia passar a vida toda apenas em uma pequena povoação, sabendo do resto do planeta só aquilo que contavam uns poucos aventureiros, com todos os requintes do exagero e - por que não? - de mentira, que superfaturava a coragem do narrador.

(1) ANTONIL, André João (ANDREONI, Giovanni Antonio). Cultura e Opulência do Brasil por Suas Drogas e Minas. Lisboa: Oficina Real Deslandesiana, 1711, p. 159.
(2) MALLET, Allain. Manesson Beschreibung des gantzen Welt-Kreises. Frankfurt am Main: J. A. Jung, 1719. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.


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