segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Dependência e controle das forças da natureza

Tempestade sobre Brasília - DF

Os povos do passado eram, em termos de sobrevivência, muito mais dependentes da boa vontade da natureza do que humanidade o é hoje em dia, já que tinham menos controle sobre ela. Exemplificando: Se chovia muito, ou se havia pouca chuva, as colheitas eram menores do que o necessário à subsistência da população e, desse modo, era provável que houvesse gente que acabaria morrendo de fome. Emigrar, ainda que temporariamente, podia ser uma solução (quando isso era possível). Havia também um outro fator a considerar: refugiados famintos nem sempre eram bem recebidos. Podiam, até, ser expulsos ou mortos.
Além disso, não havia tecnologia suficiente para a conservação de alimentos por um longo período, o que significa que, mesmo em caso de uma safra excepcional em um ano, podia muito bem ocorrer que, na temporada seguinte, houvesse escassez de alimentos.
Que falar, então de pragas que afetavam as lavouras? Ratos, formigas, gafanhotos podiam, em pouquíssimo tempo, jogar por terra as mais felizes esperanças de fartura e prosperidade.
A maior das catástrofes sobrevinha na ocorrência de anos sucessivos de colheitas magras. Em última análise, o fenômeno podia resultar em descrédito para os governantes e em ruína para uma civilização.
A quem culpar? Os povos da Antiguidade não tinham, como se sabe, uma profunda compreensão dos fenômenos naturais. Deuses eram associados às atividades comuns da subsistência e, se as coisas andavam mal, duas atitudes eram possíveis: a primeira delas era entender que o(s) deus(es) estavam irritados com seus servidores humanos e manifestavam raiva através de catástrofes. Era, portanto, necessário aplacar a ira das divindades com sacrifícios que, não raro, vinham a ser até mesmo de vidas humanas. De crianças, por exemplo.
Uma outra atitude era a de atribuir a culpa das desgraças à incompetência e/ou má vontade dos deuses. Não é por acaso que, sincreticamente, em algumas regiões do mundo, mesmo sob tradição cristã, se usasse (ou ainda se use) colocar imagens de santos de cabeça para baixo, ou mergulhados em água, se deixasse de chover ou se viessem inundações.
Hoje, convenhamos, a humanidade tem uma compreensão muito maior do que ocorre na natureza. Conhecer, porém, não significa, necessariamente, controlar. E, se não podemos controlar os fenômenos naturais ao nosso gosto - alguém aí é capaz de fazer chover?!!! (não uma chuvinha magra qualquer, mas chuvas fortes e persistentes que encham os reservatórios e acabem com certos problemas) - temos nos tornado especialistas em dificultar as coisas, arrasando este planeta e esgotando recursos naturais, muitas vezes para propósitos fúteis. Ora, o preço de tanta inconsequência, alto demais, terá de ser pago.
Há muita gente que não tem a menor ideia quanto à origem das coisas de que se alimenta. Não sabe de onde vêm, muito menos como e por quem são produzidas. Uma vez, em conversa com um grupo de adolescentes, notei, não sem espanto, que eles nem sequer imaginavam que azeitonas vinham de árvores. A verdade é que, cada vez mais distantes da natureza, muitos de nós já não se reconhecem como parte dela. Não faz muito tempo, indo a passeio a um "parque ecológico" (!!!), vi uma placa que dizia: "Não perturbe a natureza". Ora, que espécie de seres, afinal, somos nós?
Muitos são consumistas por estilo de vida. Outros porque foram ensinados a viver assim. Em alguns países, o consumo é incentivado para garantir que a economia "continue a girar". A maioria da população nem tem uma ideia correta do impacto ambiental de tanto consumo. Sequer sabe que a civilização ocidental já enfrenta, há tempos, sérios problemas com a quantidade monstruosa de lixo que produz.
Em que resultará tudo isso? Creio que não teremos de esperar muito por uma resposta.


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2 comentários:

  1. Obrigada por este post tão lúcido e cru. As consequências não tardarão, infelizmente. Veremos em que ponto ficará a Economia, quando faltar água potável para bebermos.
    Beijinhos
    Ruthia d'O Berço do Mundo

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    Respostas
    1. Já vemos consequências em quase todo lugar. O sistema de reservatórios de água que abastece grande parte de São Paulo (chamado "Sistema Cantareira") está severamente comprometido, orçando por cerca de 7% de sua capacidade, apenas. Mais ou menos o que está ocorrendo também na Califórnia.

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