"Às nove horas da noite apaguei eu a candeia, e não havia no fogão nem uma brasa: o fogo foi maléfico..."
Joaquim Manuel de Macedo, As Mulheres de Mantilha
Aterrorizados pelo alarido de um burro, de um cachorro, de um gato e de um galo, ladrões fogem, a toda pressa, da casa em que se banqueteavam. Melhor para os animais, que se deliciam com uma esplêndida refeição. Uma vez satisfeitos, apagam as luminárias, e cada um trata de encontrar um bom recanto para dormir, ficando a casa em completo silêncio e às escuras.
Tarde da noite, um dos ladrões retorna. Percebe uma tímida faísca junto ao fogão, e, supondo ser uma brasa ainda viva, se aproxima, pensando em acender um pequeno facho. Mas, ai! É brutalmente arranhado pelo gato, que se encarapitara sobre o fogão. Não havia, naturalmente, brasa alguma, somente o brilho dos olhinhos vigilantes do felino. Em meio à escuridão, o meliante só pensa em fugir, não sem antes receber uma mordida do cão, estacado junto à porta, e, já do lado de fora, um coice do burro e uma valente bicada do galo.
A esta altura os leitores já sabem, suponho, que falo de Die Bremer Stadtmusikanten, um conto dos Irmãos Grimm que está por completar duzentos anos. Eu, quando era criança, amava ouvir contar essa história, mas hoje, aqui no blog, ela nos serve para mostrar que a singela brasa de um fogão a lenha ou a carvão pode ter muita importância. Então, amigos, sorrindo ou zangados, prossigam a leitura, sim?
Forno de barro (²) |
As cozinhas das casas-grandes coloniais ou das fazendas de café do Século XIX eram lugares movimentados, quentes no verão, é verdade, mas acolhedores no inverno e dias chuvosos. Escravas trabalhavam sob a supervisão de uma cozinheira experiente, e mesmo as senhoras não se furtavam a dar palpites. Na rotina diária, era preciso remover as cinzas, e escravos deviam rachar lenha para assegurar que o fogão estaria sempre em plena atividade. Imagine-se, pois, como seria o corre-corre na cozinha de uma fazenda, em ocasiões festivas como o Natal ou um casamento!...
Um fogão a lenha especial
Fogão a lenha do Catetinho (³) |
(1) Folclore ou não, essa preferência sustenta a fama de muitos restaurantes que preparam comida "como na fazenda". Em lugares remotos no interior do Brasil os fogões a lenha não são, ainda hoje, de todo incomuns, mesmo em residências.
(2) Pertence ao acervo do Museu Histórico e Geográfico de Monte Sião - MG.
(3) Este fogão a lenha pertence ao acervo do Museu do Catetinho (Brasília - DF).
(2) Pertence ao acervo do Museu Histórico e Geográfico de Monte Sião - MG.
(3) Este fogão a lenha pertence ao acervo do Museu do Catetinho (Brasília - DF).
Veja também:
Simpatizo com fogões a lenha, acho que dão uma ambiência muito adequada ao ser humano.
ResponderExcluirÉ curioso referir que Juscelino Kubitschek esteve por aqui, no sítio onde vivo - Fundão - nos anos 60 do século passado. Claro que não é da minha lembrança. :)
Abraço
Hmmm, que interessante! E o que é que levou JK até aí?
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