Liçãozinha de moral, leitores!... Podem rir, mas continuem a ler.
A coisa foi contada pelo padre Yves d'Évreux, líder do primeiro grupo de capuchinhos que veio ao Maranhão no começo do Século XVII (¹). Indo, certo dia, fazer uma visita a um chefe indígena já bastante idoso, encontrou-o ocupado em trabalhar com um tear de fazer redes. Ora, esse era, tradicionalmente, um trabalho que, entre indígenas, se reservava às mulheres. Perplexo, o religioso francês não hesitou em interrogar o experiente guerreiro quanto à razão que o levava a essa atividade - naturalmente, d'Évreux precisou da assistência de um intérprete. A resposta não se fez esperar:
"Os rapazes observam minhas ações e praticam o que eu faço: se eu ficasse deitado na rede e a fumar, eles não quereriam fazer outra coisa; quando me veem ir para o campo com o machado no ombro e a foice na mão (²), ou tecer rede, eles se envergonham de nada fazer." (³)
Vejam, leitores, que esse chefe indígena, reputado como um "selvagem" pelos colonizadores, sabia muito bem o que era liderar. Haveria algo mais forte que o exemplo? O padre d'Évreux concluiu sua narrativa do incidente com uma observação nada lisonjeira para os franceses de seu tempo:
"Eu e os que comigo então se achavam, sentimos muito prazer ouvindo estas palavras, e desejaria vê-las praticadas por todos os cristãos, porque então a ociosidade, mãe de todos os vícios, não estaria em França, como atualmente se vê." (⁴)
Tecido de tear indígena (⁵) |
(1) Yves d'Évreux esteve no Maranhão entre 1613 e 1614, durante a tentativa de estabelecimento de uma colônia francesa naquela área.
(2) Ferramentas provenientes do escambo com franceses.
(3) D'ÉVREUX, Ivo. Viagem ao Norte do Brasil Feita nos Anos de 1613 a 1614. Maranhão: Typ. do Frias, 1874, p. 62.
(4) Ibid.
(5) Da etnia Kaxináwa, Acre. Pertence ao acervo do Memorial dos Povos Indígenas (Brasília - DF).
(5) Da etnia Kaxináwa, Acre. Pertence ao acervo do Memorial dos Povos Indígenas (Brasília - DF).
Veja também:
Talvez d'Évreux quisesse, com este escrito, "mexer" com os seus compatriotas. Seja como for, o relato é autêntica lição de vida.
ResponderExcluirTenha uma boa semana, Marta :)
Concordo plenamente: ao longo de seus escritos, o simpático franciscano não economizou nas críticas aos franceses de seu tempo.
ExcluirUm abraço, tenha uma ótima semana!