Espártaco era um gladiador. Como ninguém nasce gladiador, parece-me necessário explicar que, na Roma Antiga, os espetáculos de gladiadores haviam começado como um divertimento para os soldados que, lutando, mantinham a forma quando não havia guerra. Posteriormente (¹), as lutas passaram a ser uma atividade profissional, se entendermos que os "profissionais" em questão eram escravos, quase sempre selecionados entre os prisioneiros de guerra que mais impressionavam pelo vigor físico (²). Era esse o caso de Espártaco, um trácio que integrara um corpo de auxiliares do exército romano, mas que desertara e fora capturado. O que aconteceu em seguida é relatado por Aneu Floro (³) em Epitome rerum Romanarum:
O último combate de Espártaco, na visão de um cartunista do Século XIX (⁵) |
As fontes apresentam alguma divergência quanto ao número de adeptos que Espártaco conseguiu arrebanhar, mas é fato que, nos três anos seguintes (73 a 71 a.C.), a Península Itálica viveu um severo conflito, no qual o exército romano foi várias vezes derrotado por gladiadores e escravos que lutavam pela liberdade - talvez houvesse nisso um fator importante para o sucesso que inicialmente obtiveram.
Não era fácil, porém, controlar milhares de homens em fúria. Afinal, as forças romanas conseguiram vencer os revoltosos. Quanto a Espártaco, no dizer de Floro, "lutando com valentia na primeira fila [de combatentes], teve a morte de um grande comandante." (⁴)
Como explicar uma rebelião de proporções tão assinaladas? Além do já citado desejo de liberdade, deve-se considerar que:
- Os escravos eram exageradamente numerosos em Roma, em consequência do cativeiro de inimigos derrotados em combate;
- Muitos escravos, tendo pertencido ao exército de outros povos, haviam recebido treinamento militar e, mesmo não tendo armas adequadas, eram fortes e, conforme se verificou, capazes de fazer frente ao disciplinado exército romano;
- A chamada "Revolta de Espártaco" não foi a primeira e nem a última rebelião envolvendo escravos nos domínios de Roma (na historiografia clássica é também conhecida como Terceira Guerra Servil).
Teriam os romanos consciência do problema que criavam para si mesmos com a multiplicação de braços cativos? As consequências eram demasiado óbvias para que passassem despercebidas. Foi também Floro quem perguntou: "Por que motivo os gladiadores se revoltaram contra seus treinadores, a não ser pelo fato de que se obtinha o favor da plebe com a realização de espetáculos, nos quais supliciar o oponente vencido tornou-se uma arte?" (⁴)
(1) É opinião corrente que isso teria ocorrido por volta do final da Primeira Guerra Púnica.
(2) Autores romanos, como Júlio César, por exemplo, destacaram o fato de que gauleses e germanos, muito mais altos e mais fortes que a média da população de Roma, eram temidos pelos soldados, que somente eram capazes de derrotá-los devido à disciplina e estratégia que as forças romanas apresentavam nas batalhas.
(3) Um contemporâneo do imperador Adriano.
(4) Os trechos citados de Epitome rerum Romanarum foram traduzidos por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
(5) BECKETT, Gilbert Abbott à et LEECH, John. The Comic History of Rome. London: Bradbury, Evans and Co., 1851, p. 281.
Veja também:
(5) BECKETT, Gilbert Abbott à et LEECH, John. The Comic History of Rome. London: Bradbury, Evans and Co., 1851, p. 281.
Veja também:
Marta
ResponderExcluirÉ muito bom poder começar o ano lendo
suas preciosidades.
Feliz 2018 pra nós!.
Bjins
CatiahoAlc.
Bom dia, minha amiga,
ExcluirQue seu 2018 seja maravilhoso, repleto de lindos poemas!
Espártaco - por aqui dizemos Spartacus - foi um herói que atravessou a minha infância, e por quem, ainda hoje, nutro simpatia.
ResponderExcluirUm abraço, Marta :)
Também se usa Spartacus no Brasil. Quem não teria simpatia por alguém que luta pela liberdade?
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