terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A iluminação pública e residencial quando não havia rede elétrica

"O largo apresentava novo aspecto; as tochas acessas em volta e as luminárias suspensas nas janelas das casas, derramavam sobre as alcatifas cobertas de lantejoulas a claridade das luzes, menos brilhante que a do sol, porém mais suave e fascinante."
                                                                                                   José de Alencar, As Minas de Prata

Candeia usada no Século XIX (³)
Se fôssemos capazes de voltar no tempo, talvez uns duzentos anos, veríamos logo ao anoitecer que tudo ficava realmente escuro. Excetuando-se as pequenas lanternas de mão costumeiramente carregadas quando, corajosamente, alguém andava pelas ruas à noite, poder-se-iam ver poucas luzes, bruxuleando através de frestas de janelas ou gelosias - eram velas em castiçais, pequenas candeias sobre os móveis das casas ou presas às paredes, quem sabe alguma lamparina. Defronte às residências, apenas tochas, colocadas quase sempre somente em dias festivos. O combustível para isso era, naturalmente, economizado, fosse o precioso azeite, quase nunca usado no Brasil (era caro, vinha do Reino), ou o mais comum, óleo de baleia (sim, senhores leitores, era muito usado, e não só no Brasil, o que fez da pesca de baleias, durante muito tempo, um negócio importante no litoral brasileiro, a ponto de ser alvo de monopólio e, segundo Varnhagen, de quase se extinguirem dessas paragens os pobres cetáceos).

Anúncio de lamparina a querosene, publicado em 1905 (⁴)

Anúncio datado de 1915, no qual são oferecidos
vários produtos e instalação
de luz elétrica (⁵)
No Brasil do século XIX algumas cidades receberam a dádiva de uma iluminação pública a gás (¹), que, nas primeiras décadas do século XX, seria gradual e generalizadamente substituída, como todo mundo sabe, por redes elétricas. Fato menos conhecido, no entanto, é o de que as companhias de iluminação a gás forneciam, além da iluminação de rua, também iluminação residencial que, como se pode facilmente imaginar, não era coisa para todos. Dados referentes a 1887 dão conta de que havia, naquele ano, mais de 1300 combustores a gás instalados na cidade de São Paulo para iluminação pública, sendo 1430 as residências servidas por iluminação também a gás. (²)
A introdução das redes de energia elétrica, feita paulatinamente, significou, durante certo tempo, uma convivência entre o gás e a eletricidade como modelos de iluminação, tanto pública quanto residencial, até que um viesse a destronar completamente o outro.

Anúncio de bondes elétricos sem trilhos (⁶)

(1) São Paulo, por exemplo, teve a iluminação pública a gás inaugurada em 1872.
(2) Veja, sobre isso: TAUNAY, Affonso de E. História da Cidade de São Paulo. Brasília: Ed. Senado Federal, 2004, p. 345.
(3) Pertence ao acervo do Museu da Energia de Itu, SP.
(4) ECHO PHONOGRAPHICO, nº 35, janeiro de 1905.
(5) A CIGARRA, 30 de dezembro de 1915.
(6) A CIGARRA, 6 de março de 1914.


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