"Eu não digo que vocês não se mereçam; não a conheço. Mas, Ricardo, você não pode tomar estado. Ela é filha de doutor, não há de querer lavar nem engomar."
Machado de Assis, Vênus! Divina Vênus!
Passar roupa, antes dos ferros elétricos, era trabalho muito cansativo e, pelos atuais padrões de ergonomia, uma verdadeira tragédia. O ferro, de formato que lembra um pouco os atuais, era oco, de modo que, dentro dele, eram colocadas brasas, que o mantinham aquecido para que as roupas adquirissem, depois de lavadas, um aspecto satisfatório. As brasas eram, em geral, provenientes de um fogão a lenha - em outros tempos, quase toda cozinha tinha um.
Antigo ferro para passar roupa, que devia ser aquecido com brasas (¹) |
Anúncio de aluguel de escrava, no qual se diz que ela é capaz de "engomar e lavar com perfeição" (²) |
Todo o processo ficava mais difícil, é bom lembrar, porque antigamente os tecidos, sendo feitos de fibras naturais (de origem animal, como a lã, ou vegetal, como o algodão e o linho), não eram propícios a uma tarefa rápida, havendo muitas vezes a necessidade de que fossem engomados. Acrescente-se a isso que, sendo o ferro aquecido por brasas, não havia quase possibilidade de controlar sua temperatura, o que contribuía para tornar ainda mais penoso o seu uso. A pessoa que usava o ferro ("de brasa" ou "a brasas", conforme o lugar) devia necessariamente trabalhar em pé por um longo período, coisa que certamente não contribuía para promover a saúde. Finalmente, note-se que, para realizar tal trabalho, até fins do século XIX quase todo mundo se servia de uma escrava, de modo que só os mais pobres não se proviam de uma para trabalhos domésticos.
Os ferros aquecidos por brasas continuaram em uso por muito tempo, até que as redes elétricas, atingindo a maior parte das localidades, possibilitaram o emprego de ferros mais modernos e eficientes, que começaram a ser popularizados no Brasil nas primeiras décadas do século XX.
Anúncio de venda de ferros elétricos (³) |
(1) Pertence à decoração do excelente hotel Porto di Mare, em Ubatuba - SP, a cuja direção agradeço a permissão para esta foto.
(2) AURORA PAULISTANA, 11 de dezembro de 1852.
(3) A CIGARRA, 31 de março de 1916.
Veja também:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Democraticamente, comentários e debates construtivos serão bem-recebidos. Participe!
Devido à natureza dos assuntos tratados neste blog, todos os comentários passarão, necessariamente, por moderação, antes que sejam publicados. Comentários de caráter preconceituoso, racista, sexista, etc. não serão aceitos. Entretanto, a discussão inteligente de ideias será sempre estimulada.