terça-feira, 28 de julho de 2020

Procedimento indígena para dar força às flechas

"Às costas cada qual suspende a aljava
Pejada de farpadas leves flechas,
E o arco sobraçando, a maça empunha."

Gonçalves de Magalhães, A Confederação dos Tamoios

Indígenas portando armas (²)
Indígenas faziam amplo uso de flechas, tanto para a caça, com a finalidade de obter alimento, como em guerra contra grupos inimigos. Prepará-las cuidadosamente era, portanto, conhecimento essencial à sobrevivência na floresta. De acordo com Francisco Bernardino de Sousa, que escreveu no Século XIX sobre aspectos interessantes da região amazônica, as flechas indígenas poderiam ser classificadas em três grupos:
"Há três espécies de flechas usadas na guerra, diz o sr. Gonçalves Dias, uagike comm, a arpoada, uagike méran, e a outra para caça dos animais menores, uagike bacamnumok." (¹)
Passa, em seguida, a descrever os três tipos:
"A primeira tem a ponta alongada ou elíptica, feita de taquara; tostam-na para ficar mais dura, e raspam-na e aparam para que fique cortante como faca, e a ponta fina como agulha. O animal, ferido dela, sangra muito, porque um dos lados é côncavo. A ponta da flecha arpoada, que tem polegada ou polegada e meia de comprimento, é feita de pau-d'arco ou de airi (³). É fina e muito aguda. Tem oito ou dez arpéus, e se emprega na caça de animais grandes e pequenos e também na guerra: A sua ferida é perigosa por ser de difícil extração. As flechas da terceira espécie são obtusas e matam por contusão: tomam para isso uma vara que tenha três ou mais nós, formando como um botão, de que fazem a extremidade da flecha." (⁴)
Havia, finalmente, um detalhe na técnica, que podia tornar mais fortes as flechas do primeiro tipo:
"Para dar mais força às primeiras, untam-nas com cera, passam-nas ao fogo para que penetre melhor e assim fazem também com os arcos." (⁵)
Estes eram saberes da floresta, acumulados ao longo de gerações e transmitidos sempre oralmente, no contexto de culturas ágrafas, mas nem por isso menos ricas. 

(1) SOUSA, Francisco Bernardino de. Lembranças e Curiosidades do Vale do Amazonas. Belém do Pará: Typ. do Futuro, 1873, p. 271.
(2) STADEN, Hans. Wahrhaftige Historia und beschreibung eyner Landtschafft der Wilden Nacketen Grimmigen Menschenfresser Leuthen. Marburg: 1557. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(3) Variedade de palmeira.
(4) SOUSA, Francisco Bernardino de. Op. cit., pp. 271 e 272.
(5) Ibid., p. 272.


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