Vem do terreno das fábulas e mitos da Grécia Antiga, mas é caso interessante. Segundo Plutarco (¹), o caminho entre Trezena e Atenas era terrível, não por sua configuração geográfica, mas por causa dos homens que o frequentavam, gente de capacidade física notável e de brilhantes dotes mentais, ambos aplicados para fazer tudo o que havia de mais pérfido. Tão perigosa era essa rota, que os que precisavam ir de uma cidade a outra por ela, levando em conta os riscos à vida, preferiam fazer a viagem por mar. Talvez haja nisso uma explicação mitológica para a opção grega pela navegação. Face às dificuldades oferecidas pelos caminhos terrestres, em virtude do relevo acidentado, as viagens marítimas mostravam-se mais rápidas e, em alguns casos, até mais seguras.
Com lendas ou sem elas, não havia força policial na Grécia de tão remotos tempos, à qual pessoas de bem pudessem recorrer. É nesse cenário que emerge ninguém menos que Hércules, para realizar um trabalho que não costuma aparecer na famosa lista dos doze maiores que, segundo as crenças dos antigos gregos, realizou: "Hércules nascera com grande coragem para as maiores façanhas, e ao saber que o caminho [de Trezena a Atenas] estava repleto de assaltantes, resolveu percorrê-lo, movido pela coragem, a fim de torná-lo seguro, eliminando os malfeitores que nele havia. Foi assim que matou um grande número de ladrões audaciosos, que havia por lá naquela época." (²)
Pergunto: ao limpar o caminho, matando os salteadores que o infestavam, não teria Hércules agido de modo semelhante a eles? Será que os antigos gregos, quando contavam as lendas (que, para eles, eram mais que lendas) achavam que um herói tinha o direito de arbitrar quem era bom ou mal, quem merecia viver ou morrer? Hércules, afinal, nem sempre era um herói bondoso: foi por matar a mulher e os filhos durante um acesso de fúria que teve de realizar os célebres doze trabalhos.
Não deixa de ser intrigante que tantos povos da Antiguidade tivessem, em suas coleções de lendas exaustivamente repetidas, referências a heróis valentes, capazes de, pela força, às vezes aliada à astúcia, resolver problemas que, de outro modo, seriam insolúveis. Hércules, dos antigos gregos, foi apenas mais um desses.
(1) c. 45 - 125 d.C.
(2) PLUTARCO. Vitae parallelae. O trecho de Vitae parallelae aqui citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
Sempre houve quem tentasse "impor" a justiça. O problema é quando o executor é a mesma pessoa/entidade que julgou os atos. A separação dos poderes foi uma das maiores conquistas da democracia.
ResponderExcluirConcordo!
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