quinta-feira, 16 de julho de 2020

Félix: liberto, governador da Judeia, cruel, corrupto

Em Roma, ex-escravos eram chamados "libertos", ainda que o mesmo nome fosse dado, eventualmente, a filhos de ex-escravos. Libertos podiam se tornar muito ricos, e alguns até atingiram postos importantes no governo. Foi o caso de Félix, um liberto do imperador Cláudio.
Assim, somos conduzidos a um aspecto significativo da escravidão em Roma, onde cativos não eram, necessariamente, pessoas destituídas de instrução, entregues sempre a trabalhos brutais. Sim, isso também acontecia, mas havia exceções e elas não eram raras. Ao contrário: gregos derrotados em combate se tornaram, mesmo escravizados, mestres dos meninos romanos, fazendo com que a língua e cultura gregas viessem a ser atributos muito valorizados entre a elite senatorial. Calcule-se, portanto, a influência que exerceram. Muitos deles foram, depois de algum tempo, libertados, mas, em Roma, um liberto tinha ainda certas obrigações para com seu antigo proprietário.
Isto posto, voltemos a falar de Félix, o liberto de Cláudio. No dizer de Suetônio (¹), o imperador tinha tanta afeição a ele, que lhe concedeu autoridade sobre unidades militares e, como se fora pouco, fez dele o governador da Judeia. Tácito, por sua vez, chegou a dizer que Félix, nesse posto, "entendia poder fazer, impunemente, qualquer malefício" (²). Mas por que alguém iria querer deixar Roma para assumir o mando em uma província distante?
Pode-se falar em pilhagem, extorsão, malversação de fundos - para as províncias exploradas não havia muita diferença prática - o fato é que a possibilidade de enriquecimento tornava atraente o cargo de governador, a despeito do desconforto causado pelo deslocamento e pela necessidade de sufocar revoltas entre a população pouco ou nada satisfeita com o domínio de Roma. Félix, o liberto de Cláudio, foi apenas mais um dentre os muitos corruptos que exerceram algum cargo no governo de províncias do Império.

(1) De vita Caesarum, Livro V.
(2) Annales, Livro XII.


2 comentários:

  1. Félix, ao ser nomeado governador da Judeia, não foi, com certeza, por ser uma flor delicada. :)

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    1. Quase todos os que aceitavam a nomeação para o governo de alguma província distante do Império Romano tinham interesses que, no mínimo, não eram favoráveis aos povos que deviam governar. Félix não foi exceção.

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