Façam um esforço de imaginação, leitores, e tratem de pensar que estão assistindo a um desfile triunfal na Antiguidade. O lugar não importa: pode ser no Egito, na Nínive dos assírios, na Babilônia, talvez em Roma, porque, nesse sentido, foi mais famosa. O que vocês veriam ao redor?
Os triunfos, ou desfiles militares de comandantes vitoriosos e seus soldados, estavam longe de ser procissões solenes, ainda que sempre incluíssem um aspecto religioso, e não de pouca importância. Quem assistia tinha licença não só para aplaudir os vencedores e aclamar líderes políticos e militares, como para zombar à vontade dos inimigos derrotados. Uma euforia perversa tomava conta das multidões.
No entanto... Que dizer dos sentimentos de parentes e amigos daqueles que, mesmo lutando do lado vitorioso, haviam morrido em combate? Será que alguém se lembraria deles, em meio às comemorações?
Tenho mais perguntas. Quantas terras não eram devastadas devido às guerras, tanto pelos que se defendiam, para não facilitar o trabalho dos invasores, como pelos que invadiam, para nada deixar aos inimigos que eventualmente sobrevivessem? Recordem-se, leitores, de que grandes desmatamentos, e por motivos nem sempre muito nobres, não são coisa apenas de nosso tempo. Vejam, abaixo, o que mostra um relevo assírio, velhinho de milênios:
Só mais um tópico interrogativo, para não cansar quem lê: quanto da produção cultural da humanidade não terá se perdido, em bibliotecas e templos destruídos por exércitos invasores, para quem o fogo era a melhor ferramenta de conquista? Quanto saber penosamente acumulado não terá virado, literalmente, pó e cinza, para prejuízo das gerações subsequentes? Vocês, leitores deste blog, são pessoas instruídas, e não terão dificuldade em considerar ocasiões em que um povo cultural e/ou cientificamente avançado foi vencido, na guerra, por outro mais forte apenas nas armas. Não são poucos os casos em que um triunfo militar foi seguido por anos e, até, séculos de declínio nas artes e na ciência. Não, a marcha da humanidade não tem sido uma ascensão contínua. Ao contrário, ao contrário...
Fragmento de um relevo assírio em que soldados aparecem derrubando árvores (*) |
Para ficar claro: isto não é um protesto pacifista.
(*) LAYARD, Austen Henry. The Monuments of Nineveh. London: John Murray, 1853. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(*) LAYARD, Austen Henry. The Monuments of Nineveh. London: John Murray, 1853. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
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