Iluminação pública com azeite de peixe, de acordo com José dos Reis Carvalho (¹) |
"Já viram lâmpada sem óleo conservar a sua luz?" (²), perguntou Joaquim Manuel de Macedo. Sim, no passado o óleo, independente de que tipo fosse, era a chave para manter as lâmpadas acesas quando chegava a noite, trazendo consigo a escuridão. E tudo foi muito escuro por milênios, a não ser pelas velas ou lâmpadas a óleo ou azeite. Quem saía às ruas nas horas da noite precisava levar consigo algum tipo de lanterna ou lampião, e mesmo assim era difícil enxergar além da distância suficiente para alguns passos. Compreende-se, pois, porque é que a maioria das pessoas evitava sair quando escurecia. Era mesmo muito arriscado.
Séculos não muito distantes de nós trouxeram consigo a iluminação de rua, que faz recordar aquele trechinho de Machado de Assis em Memórias Póstumas de Brás Cubas:
"Eu deixei-me estar com os olhos no lampião da esquina, - um antigo lampião de azeite, - triste, obscuro e recurvado, como um ponto de interrogação."
Com os lampiões de rua vieram também os acendedores de lampiões, que deviam fazer seu trabalho todo final de tarde. No Brasil, os lampiões da iluminação pública foram, por muito tempo, abastecidos principalmente com óleo de baleia (³).
Posteriormente as cidades passaram a ter um sistema mais moderno de iluminação, no qual os lampiões funcionavam a gás. Nessa época, mesmo sendo escassa a iluminação, uma cidade, à noite, parecia muito brilhante, quando contrastada à escuridão que imperava ao seu redor. Ora, se não temos hoje ideia do que significava isso, já que vivemos em um mundo no qual a regra é o excesso de luzes e não a falta delas, temos, ao menos, um relato interessante do pintor francês François A. Biard, que esteve no Rio de Janeiro em 1858:
"Numa curva do caminho descortinei um espetáculo soberbo: lá em baixo todas as ruas iluminadas, toda a cidade verdadeiramente feérica. Os lampiões a gás espalhados pelas montanhas, como as de Santa Teresa, do Castelo e Glória, destacavam-se no céu, misturavam-se com as estrelas, no meio das quais o Cruzeiro do Sul brilhava como uma cruz de fogo." (⁴)
O aparecimento da luz elétrica tornou mais confortável a circulação pelas ruas das cidades em horário noturno, ainda que não tenha, necessariamente, significado maior segurança (não por culpa da luz, porém). A beleza das luzes urbanas quase apagou, no entanto, um espetáculo ainda mais belo - o do céu noturno, cada vez mais difícil de ser observado, a não ser muito longe das áreas densamente povoadas.
(1) Obra de José dos Reis Carvalho, 1851. O original pertence à BNDigital; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.
(2) MACEDO, Joaquim Manuel de. Um Passeio Pela Cidade do Rio de Janeiro. Brasília: Senado Federal, 2005, p. 381.
(3) Lampiões a querosene também foram usados.
(4) BIARD, François A. Dois Anos no Brasil. Brasília: Ed. Senado Federal, 2004, p. 39.
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