A exploração do látex, extraído da Hevea brasiliensis (seringueira, se preferirem) da região amazônica, proporcionou, em fins do Século XIX e início do Século XX, um período de prosperidade para o norte do Brasil que é, frequentemente, chamado surto ou ciclo da borracha (¹).
A Hevea brasiliensis não é, contudo, a única árvore fornecedora de látex (²). Das explorações conduzidas por Félix de Azara (³) no Século XVIII ficaram registros que demonstram a importância do látex extraído em áreas de colonização espanhola na América do Sul:
"O mangaysy é uma árvore [...] cuja resina é bastante conhecida no mundo todo com o nome de goma elástica. [...] Neste país (⁴) só a vi ser empregada para fazer bolas com que os meninos brincam e para iluminação à noite no deserto (⁵)." (⁶)
É pouco provável que Azara falasse da Hevea brasiliensis, que, como já disse, é nativa da região amazônica, mas, havendo outras árvores que produzem látex, ainda que de qualidade inferior, não surpreende que crianças logo encontrassem aplicação para tão útil recurso natural. Como, porém, seria o látex usado na iluminação? Voltemos a Azara:
"[...] faz-se desta resina uma bola que é posta na água; observando-se o lado que flutua, apertam-na para fazer uma espécie de mecha à qual se põe fogo e, acesa, é colocada na água, onde queima a noite toda, até que se consome inteiramente." (⁷)
Distantes da Europa, colonizadores precisavam improvisar (muitas vezes) e investigar, entre a população nativa, materiais que suprissem a falta dos recursos a que estavam acostumados. O uso do látex para iluminação parece, assim, ser um exemplo interessante a comprovar tal fato (⁸).
(1) Há divergências quanto à nomenclatura.
(2) Embora o látex dela extraído seja considerado da mais alta qualidade.
(3) Viveu entre 1742 e 1821. Ao liderar a Comissão Demarcadora de Limites da Espanha entre 1789 e 1801, teve a oportunidade de fazer inúmeras observações quanto às condições geográficas no Paraguai, Argentina e Uruguai, bem como sobre a fauna e a flora dessa região.
(4) Referia-se ao território atual do Paraguai.
(5) Deserto, aqui, significa uma área desabitada.
(6) AZARA, Félix de. Viajes por la América del Sur 2ª ed. Montevideo: Imprenta del Comércio del Plata, 1850, pp. 80 e 81.
(7) Ibid., p. 81. Os trechos citados foram traduzidos por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
(8) Não foi o único meio de iluminação obtido mediante o uso de recursos naturais conhecidos pela população indígena da América do Sul.
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