terça-feira, 18 de dezembro de 2018

De onde vinha o óleo que mantinha as candeias acesas no Brasil Colonial

Óleo de baleia na iluminação de casas e engenhos coloniais


Uma parte nada desprezível na adaptação dos colonizadores à vida no Brasil estava relacionada a encontrar substitutos para artigos de uso corrente em Portugal. Foi assim, por exemplo, quanto ao óleo usado para manter acesas as candeias que, à noite, asseguravam que casas e engenhos não ficassem às escuras. Com o passar do tempo, o chamado "óleo de baleia" seria muito utilizado; contudo, as baleias (¹), que nos primeiros tempos da colonização eram em extremo numerosas ao largo da costa do Brasil, foram gradualmente desaparecendo, em razão da autêntica guerra de extermínio que a cobiça moveu contra elas. "As baleias são em tão grande número, que só nesta Bahia anda hoje o Contrato Real sobre elas em quarenta e três mil cruzados por tempo de três anos" (²), escreveu o padre Simão de Vasconcelos no Século XVII. Era a suposição, nascida à altura do descobrimento, de que, no Brasil, água, terra, matas, tudo, enfim, era infinito. As baleias infinitas pagaram caro por isso.

Algumas alternativas para iluminação


Óleo de copaíba
Exemplar jovem de copaíba
Curiosamente, no Século XVI as candeias queimaram um óleo vegetal bastante perfumado, o de copaíba. Depois reputado medicinal, queimá-lo passou a ser, para os colonizadores, um desperdício. Na explicação de Gabriel Soares, senhor de engenho na Bahia por dezessete anos, a copaíba "é árvore grande, cuja madeira não é muito dura, e tem a cor pardaça, e faz-se dela tabuado; a qual não dá fruto que se coma, mas um óleo santíssimo em virtudes, o qual é da cor e clareza de azeite sem sal, e antes de se saber de sua virtude servia de noite nas candeias. Para se tirar esse óleo das árvores, lhes dão um talho com um machado acima do pé, até que lhe chegam à veia [sic], e como lhe chegam corre este óleo em fio, e lança tanta quantidade cada árvore, que há algumas que dão duas botijas cheias, que tem cada uma quatro canadas (³)." (⁴)

Óleo de fígado de peixe-serra
Seguindo o procedimento de aproveitar o que estava à mão, o óleo de fígado de peixe-serra também serviu para iluminação, assim como para calafetar embarcações. Disse Gabriel Soares: "Aragoagoay é chamado pelos índios o peixe a que os portugueses chamam peixe-serra [...]. Este peixe [...] tem tamanhos fígados [sic], que se tomam muitos de cujos fígados se tiram trinta a quarenta canadas de azeite, que serve para a candeia e para [...] o breu para os barcos." (⁵)

Óleo de fígado de tubarão
Ainda de acordo com Gabriel Soares, "porque se não podem brear as naus sem se misturar com a resina graxa, na Bahia se faz muita de tubarões, lixa e outros peixes, com que se alumiam os engenhos e se breiam os barcos que há na terra [...]" (⁶).

Além desses, outros óleos foram utilizados, à medida que, movido pela necessidade, o conhecimento quanto aos recursos naturais que a terra tinha a oferecer se expandiu . A interação entre colonizadores e indígenas, quando pacífica (⁷), foi, nesse sentido, muito produtiva.

(1) A carne de baleia era dada aos escravos para alimentação; outras partes tinham grande variedade de uso, até mesmo na composição de argamassa para construção de muros.
(2) VASCONCELOS, Pe. Simão de S. J. Notícias Curiosas e Necessárias das Cousas do Brasil. Lisboa: Oficina de Ioam da Costa, 1668, p. 280.
(3) Uma canada corresponde a 1,4 litros.
(4) SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado Descritivo do Brasil em 1587. Rio de Janeiro: Laemmert, 1851, p. 196.
(5) Ibid., p. 281.
(6) Ibid., p. 358.

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