quinta-feira, 15 de julho de 2021

O primeiro imperador romano a comprar a lealdade dos soldados

É sabido que muitos imperadores romanos chegaram ao cargo comprando o apoio do exército. Em consequência desse fato, já de si lamentável, não foram poucos os casos em que, achando os soldados algum outro que pagasse mais, trataram de eliminar (definitivamente) o imperador em exercício, para elevar ao poder aquele que lhes oferecia mais dinheiro. A livre Roma dos velhos tempos da República ver-se-ia, no Império, cativa do próprio exército.
Imperador Cláudio, em representação do
Século XVI (²)
Mas quem, afinal, foi o primeiro a ter a ideia de pagar pelo apoio da soldadesca? De acordo com Suetônio (¹), foi Cláudio, sucessor de Calígula e antecessor de Nero.
O mesmo Suetônio opinou que Cláudio chegou ao poder por uma casualidade. Expliquemos: Tibério Cláudio Druso (era esse o seu nome), fora um jovenzinho de saúde frágil e, portanto, considerado pelos próprios parentes como inadequado ao controle de Roma. Contudo, quando Calígula foi assassinado, Cláudio, que era seu tio, correu a esconder-se, julgando que poderia muito bem ser o próximo alvo dos assassinos. Oculto entre cortinas, assim permaneceu até que um soldado que por ali passava, vendo sob elas uns pés desconhecidos, resolveu investigar de quem eram, e deu com Cláudio, que, apavorado, imaginou ter chegado sua hora extrema. Mas não! O soldado, tão pronto o viu, prestou a ele a saudação imperial e, pouco depois, o trêmulo homem era conduzido em uma liteira à caserna dos pretorianos.
Verdade é que as coisas não corriam tão fáceis, porque havia, no Senado, um partido nada desprezível que entendia ser a ocasião de restaurar as liberdades republicanas, livrando-se da casa de César. Mais uma noite aterradora e, então, com o dia, a plebe começou a clamar por um novo imperador. A indecisão do Senado decidiu a questão: a soldadesca reunida prestou a Cláudio o juramento de lealdade usual e este, por sua vez, prometeu a cada soldado um donativo de quinze mil sestércios. Assim se comprou (explicitamente), pela primeira vez, o poder imperial em Roma.

(1) Cf. SUETÔNIO. De vita Caesarum, Livro V.
(2) CAVALIERI, Giovanni Battista. Romanorum Imperatorum effigies. Roma: Vincentium Accoltum, 1583, p. 57. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.


Veja também:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Democraticamente, comentários e debates construtivos serão bem-recebidos. Participe!
Devido à natureza dos assuntos tratados neste blog, todos os comentários passarão, necessariamente, por moderação, antes que sejam publicados. Comentários de caráter preconceituoso, racista, sexista, etc. não serão aceitos. Entretanto, a discussão inteligente de ideias será sempre estimulada.