quinta-feira, 1 de julho de 2021

O mito de Tamuz e Ishtar

A história, em si, é simples, mas os séculos de repetições foram acrescentando detalhes variados, conforme aquele dito popular segundo o qual "quem conta um conto acrescenta um ponto". Com tantos pontos, o conto chega a parecer que tem sarampo... Tamuz, o deus Tamuz, morre e vai para o escuro e frio mundo dos mortos. Ishtar, sua mulher, aventura-se, com enorme risco, para tirá-lo de lá. É admitida, mas, ao passar por sete portões, vai tendo de deixar as belas joias orientais que carrega. A deusa do submundo então ordena, como vingança por essa invasão, que Ishtar seja atacada por terríveis feridas em todo o corpo. Os deuses interferem e Ishtar é libertada. Com a efusão da água que restaura a vida, recobra a saúde e, ainda com a mesma água, traz o marido, Tamuz, de volta à vida.
Esse mito podia ser encontrado na Antiguidade entre os moradores da Mesopotâmia, Palestina, entre os fenícios e mesmo entre os gregos, É comparável, também, ao mito de Osíris e Ísis, dos egípcios. O casal de deuses podia receber nomes diferentes, mas o mito, em si, era essencialmente o mesmo, ressalvado o direito à cor local. Isso parece apontar para uma origem comum, enquanto as variações podem refletir mudanças introduzidas em cada lugar, com o correr do tempo.
Várias interpretações têm sido propostas para o mito de Tamuz e Ishtar. Dentre elas tem larga aceitação aquela que sugere que o mito remetia ao ciclo anual das estações, fosse por caracterizar o período de morte de Tamuz como o inverno (em algumas regiões), ou de sol escaldante, impróprio para a agricultura (em outras áreas). O reviver de Tamuz seria a fase do ano em que a vegetação renasce, pela influência benfazeja das chuvas (a água que restaura a vida).
No contexto das práticas religiosas da Antiguidade, uma festa anual era realizada para lembrar a morte de Tamuz e a ida de Ishtar ao mundo dos mortos. Praticava-se um curioso ritual de luto, com muito choro e comidas especiais - afinal, toda festa que se preza tem as suas. Depois, Tamuz "ressuscitava" e o ciclo ia se repetindo, até que, com o correr de milênios, acabou sendo posto de lado. Ou não?


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