A ideia que levou ao desenvolvimento, no começo do Século XIX, da técnica de conservar alimentos, primeiro em frascos de vidro e, depois, em latas, pode ser considerada uma pequena, mas fundamental revolução, nos padrões de alimentação, para uma parcela nada desprezível da humanidade (¹).
Antes disso, algumas técnicas de conservação de alimentos tornavam a comida detestável. No entanto, os processos de defumar e salgar, com aperfeiçoamentos, são usados até hoje, ainda que não se apliquem a uma grande variedade de produtos. Todo mundo sabe que alimentos frescos são superiores, mas as conservas enlatadas significaram uma melhora nas refeições oferecidas em longas viagens oceânicas, permitiram o consumo de certos vegetais fora da estação em que são cultivados, popularizaram alguns alimentos provenientes de regiões distantes e, em lugares frios, tornaram possível um suprimento variado para os meses de inverno. Vejam, leitores, que não foi pouca coisa.
Porém...
Porém, o problema com a comida trancafiada em latas é que as embalagens devem ser abertas, e, no passado, isso resultava quase em uma operação de guerra, exigindo habilidades e ferramentas que talvez correspondessem às profissões de serralheiro ou mecânico. Foi assim, até que, em meados do Século XIX, outra invenção começou a mudar o cenário: surgiu o abridor de latas!
Em 1905, a revista paulistana Echo Phonographico trouxe este anúncio, no qual oferecia aos consumidores um novo modelo de abridor de latas, que dizia ser melhor que todos os antecedentes. Seu nome, "Relâmpago", diz muito sobre ele, mas a ênfase no longo texto era a segurança, afirmando que até mesmo uma criança poderia utilizá-lo:
"Até que enfim temos um abridor de latas que cumpre o seu dever em toda a linha. Durante anos e anos, tivemos de suportar os sistemas antigos, os quais além de funcionar mal, muitas vezes cortavam as mãos do operador. O abridor de latas Relâmpago mudou tudo isso. Agora uma criança pode abrir uma lata de qualquer tamanho, sem risco de cortar-se e com a ligeireza de uma flecha. É feito de finíssimo aço temperado e polido." (²)
(1) A despeito dos casos esporádicos de botulismo, que teimam em não desaparecer.
(2) ECHO PHONOGRAPHICO, Ano III, nº 35, São Paulo, janeiro de 1905, p. 13.
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