terça-feira, 13 de julho de 2021

O que era indispensável em uma fazenda de café no Século XIX

Cafezal na região da Serra da Mantiqueira

A cafeicultura tonou-se uma atividade econômica muito importante no Brasil a partir de meados do Século XIX. Desde o estabelecimento de uma fazenda de café, até que se tornasse produtiva em quantidade e qualidade para exportação, levava por certo algum tempo. Coloca-se, pois, esta questão: qual seria a estrutura mínima para que uma propriedade agrícola pudesse funcionar nesse ramo?
Como primeira medida, era necessário assegurar a posse de terras suficientes, com clima e solo favoráveis ao cultivo de café. Vinha, então, a necessidade de construir instalações indispensáveis, que podem ser inferidas a partir desta breve descrição feita por João Severiano da Fonseca (¹):
"[...] consistem as fazendas num quadrado que lembra as reduções jesuíticas e os pequenos povoados das antigas repúblicas espanholas, fazendo-lhes uma das faces a casa do fazendeiro, outra os monjolos e o resto as senzalas dos escravos, e cercando o terreiro liso, batido e ordinariamente vermelho da argila do solo onde se seca o café, e em cujo meio quase sempre se vê erguido um cruzeiro. [...]" (²)
Portanto, sistematizando, uma fazenda de café poderia, com o tempo, ter instalações amplas e não essenciais, mas estas nunca poderiam faltar:
No Vale do Paraíba, tanto na Província do Rio de Janeiro como na de São Paulo, as fazendas, em especial nos primeiros tempos, ficavam algo isoladas, daí Fonseca ter acrescentado que, nelas, "as distrações únicas são as que a natureza pode oferecer nos passeios, na caça, etc." (³). À medida que a expansão do cultivo levou o café para o chamado "oeste paulista" (⁴), um novo estilo de vida se introduziu entre cafeicultores. A mão de obra, antes exclusivamente cativa, foi, aos poucos, substituída pelo trabalho de imigrantes europeus. Era possível a um cafeicultor ter uma ou mais fazendas, mas viver com a família em alguma cidade próxima, com maiores oportunidades em termos de sociabilidade. Campinas - SP, é ótimo exemplo disso, e teve, para os padrões das últimas décadas do Século XIX, uma vida cultural muito intensa, daí ter sido escolhida para residência de várias figuras destacadas da cafeicultura paulista que, nos arredores da cidade, viam prosperar em suas terras o "ouro verde", que, nesse tempo, ainda retribuía os cuidados com bons lucros. 

(1) Médico veterano da Guerra do Paraguai. Seu propósito, neste trecho em que descreveu fazendas de café, era contrastá-las, em sua sobriedade, com o ambiente festivo que dizia reinar nos engenhos de açúcar do Nordeste.
(2) FONSECA, João Severiano da. Viagem ao Redor do Brasil 1875 - 1878 Volume 1. Rio de Janeiro: Typographia de Pinheiro e C., 1880, p. 348.
(3) Ibid.
(4) Que não correspondia ao Oeste geográfico de São Paulo, mas que ficava mais ou menos a oeste das antigas áreas de cultivo no Vale do Paraíba.


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