quarta-feira, 27 de julho de 2016

Arados, foices e o ciclo agrícola anual dos povos da Antiguidade

Agricultores egípcios do Antigo Império usando o arado (¹)

Egípcios, hebreus, assírios, babilônios, gregos, romanos - enfim, povos dedicados à agricultura - precisavam, ao longo do ano, dar atenção à tarefa apropriada a cada estação. Antes que as sementes pudessem ser postas no solo, era preciso preparar o terreno. Arados simples eram conhecidos já na Antiguidade. Eram feitos de madeira e, como regra, eram puxados por bois. Para que funcionassem bem, deviam ter ao menos três partes, ou seja, algum tipo de suporte para as mãos do agricultor que controlava a direção a ser seguida, um lugar ao qual eram presos os bois e uma parte pontiaguda que tocava o solo para que fosse revolvido e nele se abrisse um sulco.
Concluída a aradura do terreno, era hora de semear. As sementes eram postas nos sulcos abertos pelo arado e, de imediato, cobertas com terra (²). Agora era preciso esperar que nascessem e crescessem. Seria boa a safra? Cultivava-se trigo, cevada, centeio. No Egito também se plantava linho, para a confecção de tecidos indispensáveis para a nobreza, para os trajes dos sacerdotes e para enfaixar os corpos mumificados.
Os meses seguintes eram de expectativa, mas não de indolência. Hesíodo, em Os Trabalhos e os Dias, aconselhou: "Sendo o tempo de lavrar a terra, vai com teus trabalhadores logo cedo, quer o solo esteja úmido, quer seco, e isso fará produtiva tua lavoura. Deves semear quando a terra está leve devido à estiagem, e limpar o terreno na primavera, para não ser difícil cultivá-lo outra vez quando chegar o verão." (³)
 Em algumas regiões as chuvas eram vitais para que a lavoura prosperasse, enquanto que em outras era preciso irrigar o terreno com a água de um rio. Segundo Heródoto, para cultivar trigo os assírios não podiam contar apenas com as chuvas, que eram escassas:
"Sendo pouca a chuva nos campos dos assírios, é suficiente apenas para fazer o trigo nascer e criar raízes; a terra é regada com a água do rio, mas como não há inundações anuais como no Egito, usa-se a força de homens e de noras (⁴)." (⁵)

Agricultores egípcios trabalhando na colheita (⁶)

Se tudo corresse bem, se não houvesse um ataque maciço de gafanhotos, se invasores nômades não pilhassem os campos, se a lavoura não fosse arruinada por uma guerra, a safra era tempo de festa. Para a colheita dos cereais era comum o uso de foices, instrumentos simples, às vezes feitos de madeira, já que nem todos os povos dominavam a metalurgia. No devido tempo, colhiam-se também uvas e azeitonas. Com os celeiros abarrotados, celebravam-se festivais em honra dos deuses relacionados à agricultura, cuja proteção, acreditava-se, iria assegurar, para o ano seguinte, suficiência de pão, azeite e vinho. Uma safra generosa de cevada era também recebida com satisfação, visto que garantia a abastança de certa bebida apreciadíssima desde priscas eras... 

(1) ERMAN, Adolf. Life in Ancient Egypt. London: Macmillan & Co., 1894, p. 427.
(2) Para evitar que se transformassem em uma farta refeição para bandos de aves.
(3) As citações de Os Trabalhos e os Dias de Hesíodo e de Histórias de Heródoto que aparecem nesta postagem foram traduzidas por Marta Iansen para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
(4) Nora era um equipamento primitivo usado para retirar água de um rio.
(5) Heródoto. Histórias, Livro I.
(6) ERMAN, Adolf. Op. cit., p. 52.


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