segunda-feira, 25 de julho de 2016

Uma economia viciada em café

Há quem se diga viciado em café. A economia brasileira, da segunda metade do Século XIX até quase meados do Século XX, também era, mas num sentido diferente, é claro. 
Dizendo com simplicidade, se produção e exportação de café iam bem, então a situação econômica do Brasil podia ser considerada tolerável; caso contrário, era um desespero só. A pauta de exportações era até diversificada, mas havia poucos itens de importância, e, entre eles, o café reinava soberano. 
Pobre reinado, porém!...
Qualquer perturbação na atmosfera política da Europa era sempre acompanhada com temor, já que uma guerra repentina podia significar uma redução temporária nas compras de café brasileiro. Exemplo? Lá vai. O relatório apareceu na edição de 1871 do Almanaque Laemmert, e tratava, como se verá, da queda nas vendas de café em decorrência da Guerra Franco-Prussiana:
"No dia 2 de agosto [de 1870], depois de conhecidas as notícias trazidas pelo Araucania, de rompimento entre a França e a Prússia, anularam-se a maior parte, senão todas, as ordens para compra de café, cessou o movimento do mercado, que fechou no dia 4 em completa estagnação." (¹)
Outro fantasma, que provocava apreensão a cada inverno, estava relacionado à possibilidade da ocorrência de geada nas regiões produtoras. Nesse caso, o dano aos cafezais significava queda na produção. Caíam as exportações e, com a perda da safra, cafeicultores que dela dependiam para quitar a hipoteca da propriedade corriam o risco de perder tudo o que tinham, todo o trabalho e investimento feito em anos anteriores. Afonso de E. Taunay, em sua História da Cidade de São Paulo, fez menção aos prejuízos decorrentes da geada de 1870:
"A excepcional geada de 21 a 23 de junho de 1870 a que se seguiu outra a 6 de julho prejudicou imenso a lavoura cafeeira da Província [de São Paulo]. Causou notável depressão na arrecadação provincial que baixou de 805 contos, quantia para a época muito considerável." (²)
O vício em café era, como podem ver os leitores, muito perigoso para o País. A cura, extremamente dolorosa, demorou a acontecer.

(1) HARING, Carlos Guilherme. Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e Província do Rio de Janeiro Para o Ano de 1871. Rio de Janeiro: E & H Laemmert, 1871 - Suplemento, p. 120.
(2) TAUNAY, Affonso de E. História da Cidade de São Paulo. Brasília: Ed. Senado Federal, 2004, p. 288.


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