quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Faiscadores de ouro

Talvez seja prudente começar explicando que faiscador era o nome dado ao indivíduo, fosse escravo ou livre, que, mesmo com poucos recursos, procurava ouro por conta própria em áreas de mineração consideradas de baixo rendimento. Escravos faziam isso nas horas de folga (aos domingos, por exemplo), e, com sorte e economia, podiam chegar a ter o bastante para comprar a liberdade. Entre os homens livres, havia muitos faiscadores que faziam da procura do ouro sua principal atividade, tirando daí o sustento para si e para a família. Não se esperava, como regra, que uma ocupação assim tornasse alguém rico, embora casos isolados de enriquecimento possam ter existido.
Faiscadores geralmente trabalhavam sozinhos, sem o auxílio de equipamentos que facilitassem o trabalho. Segundo o barão de Eschwege (¹), era este o procedimento típico de um faiscador: 
"[...] O faiscador entra no rio até que a água lhe chegue aos joelhos, levando uma bateia maior, de três a três palmos e meio de diâmetro. Com os joelhos antepostos e os maiores esforços, mergulha e enterra a bateia no cascalho. [...] extrai e agita os seixos soltos, de modo que são levados pela correnteza, enquanto os grãos de ouro se concentram na bateia.
[...] O ouro, que se concentra na parte afunilada da bateia, isto é, no fundo, é lavado com pouca água e guardado na bolsa de couro, presa à cintura do faiscador." (²) 
Era trabalho, portanto, dos mais penosos. Não obstante, em 1815, de acordo com Eschwege, mais era o ouro obtido anualmente pelos faiscadores, que aquele que se extraía em minas cujos proprietários dispunham de escravos e equipamentos. 
Não havia, oficialmente, faiscadores de diamantes no tempo colonial. Isto é, não deveria haver, porque as jazidas de diamantes foram, durante muito tempo, monopólio da Coroa e, portanto, era proibido que particulares nelas entrassem para mineração. Há certo consenso, porém, de que maior era a quantidade de diamantes contrabandeados do Brasil que aquela enviada formalmente ao Reino. Não se criam leis para proibir aquilo que ninguém faz (ou que ninguém tem interesse em fazer). O Brasil era simplesmente grande demais para que faiscadores fossem vigiados, ainda que esporadicamente algum faiscador de diamantes fosse capturado e pagasse pela transgressão própria e de muitos outros.


No começo do Século XX


A foto abaixo (³) mostra a lavagem do ouro no começo do Século XX, sem grandes novidades em relação aos cem ou duzentos anos anteriores. 

Lavagem do ouro, começo do Século XX (3).

(1) Wilhelm Ludwig von Eschwege veio ao Brasil a convite do governo joanino, para estudar o que poderia ser feito para revitalizar as minas já decadentes.
(2) ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig von. Pluto Brasiliensis. Brasília: Senado Federal, 2011, pp. 254 e 255.
(3) Cf. VALLENTIN, W. In Brasilien. Berlin: Hermann Paetel, 1909. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog. 


Veja também:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Democraticamente, comentários e debates construtivos serão bem-recebidos. Participe!
Devido à natureza dos assuntos tratados neste blog, todos os comentários passarão, necessariamente, por moderação, antes que sejam publicados. Comentários de caráter preconceituoso, racista, sexista, etc. não serão aceitos. Entretanto, a discussão inteligente de ideias será sempre estimulada.