Geralmente se considera que viajar para conhecer lugares novos e outras culturas é um modo excelente de se obter instrução. Gregos da Antiguidade foram notáveis pelo gosto que tinham por viagens. Não os espartanos, porém, e por razão que se atribuía a uma ordem dada pelo legislador Licurgo, conforme Plutarco (¹) explicou em Vitae parallelae:
"Licurgo não admitia que espartanos viajassem livremente de um lugar a outro. Pensava que se andassem por outros lugares, acabariam deixando de lado os costumes sóbrios que haviam aprendido e tomariam conhecimento das futilidades, hábitos e formas distintas de governo entre outros povos. Assim acabariam se tornando corruptos e, finalmente, ensinando essas coisas a outros espartanos, poriam a perder sua cidade." (²)
É fácil concluir que uma regra assim tinha como objetivo impedir o contato, por exemplo, com cidades sob regimes menos rígidos - democracias, por exemplo. Há, inclusive, quem atribua a Guerra do Peloponeso, ao menos em parte, a um confronto ideológico entre cidades sob regime democrático e outras dominadas por oligarquias.
A proibição, contudo, ia mais longe. Não só os espartanos livres, inclusive homens adultos (esparciatas) estavam proibidos de fazer turismo perto ou longe, como fazia-se todo o possível para que estrangeiros não pusessem os pés em Esparta, não fosse o caso de algum espírito novidadeiro fazer perguntas demais, repetir a conversa aqui e acolá e, indo a coisa adiante, suscitar uma rebelião. Oficialmente, no entanto, ainda conforme Plutarco, o motivo era outro: estrangeiros não deviam ser admitidos em Esparta porque poderiam trazer doenças.
O lado intrigante disso tudo, se as palavras de Plutarco forem dignas de crédito, é que o próprio Licurgo havia sido um peregrino incansável pela região mediterrânica, antes de retornar a Esparta para ditar-lhe as leis. Com o propósito de conhecer como eram governadas as diferentes localidades, viajara muito, fizera observações, tomara nota daquilo que parecia interessante e só então iniciara as reformas que instituíram a legislação que é conhecida sob seu nome. Viajar fora útil, até indispensável para ele. Para gente comum, achou melhor proibir.
(1) c. 45 - 125 d.C.
(2) PLUTARCO. Vitae parallelae. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
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