quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Quem descobriu o rio Amazonas?

No rio Amazonas

Não são poucos os inventos e descobertas que têm pater-mater-nidade duvidosa ou, ao menos, questionada. A quem cabe a primazia no invento do avião? E do cálculo? E do rádio? Quem é capaz de afirmar, fora de qualquer dúvida, quem foram os primeiros europeus a pisar na América do Norte? E no Brasil? Por que, afinal, a América tem esse nome? Se a questão é o descobridor europeu, o nome não deveria ser outro? 
Vejamos o caso do rio Amazonas. Oficialmente, Vicente Yañez Pinzón e os homens que o acompanhavam foram, em 1500, os primeiros europeus que toparam com ele, ainda que seja óbvio que, quanto à descoberta do rio, povos indígenas já o conheciam há muito tempo. Curiosamente, houve até quem acreditasse que, na Antiguidade, marinheiros fenícios que se perderam no Mediterrâneo e foram arrastados em suas embarcações para muito além das Colunas de Hércules poderiam ter acabado por chegar à foz do Amazonas. Isso não passa, no entanto, de especulação, sem qualquer solidez documental (¹).
Contudo, mesmo estabelecida a prioridade de Pinzón quanto ao Amazonas, houve outros homens que tentaram se arvorar em descobridores do grande rio. Foi o que afirmou Bernardo Pereira de Berredo e Castro, escrevendo em meados do Século XVIII, sobre gente que vivera no centênio precedente:
"Deste mesmo tempo por diante (²) se intitulou Bento Maciel primeiro Descobridor e Conquistador dos rios Amazonas e Curupá, mas com uma forte oposição do capitão Luís Aranha de Vasconcelos, que usava também dos mesmos títulos [...], que do famoso das Amazonas nenhum se podia chamar descobridor com justificados fundamentos, salvo pela parte das novas Conquistas Portuguesas, que pelas castelhanas o tinham sido sem disputa Vicente Yañez Pinzón e Aires Pinzón no ano de 1500 [...]." (³)
Cabe apenas a ressalva de que, quanto a Pinzón, seguindo costume da época, deu ao rio um nome longo, Santa Maria do Mar Doce, que, por praticidade, ficou conhecido simplesmente por Mar Doce, até que, em decorrência do relato feito por Francisco de Orellana (⁴), começou a ser chamado de rio das Amazonas. O nome pegou e é esse que usamos até hoje. 

(1) No estágio atual dos conhecimentos. 
(2) 1623.
(3) BERREDO, Bernardo Pereira de. Anais Históricos do Estado do Maranhão, Livro VI. Lisboa: Officina de Francisco Luiz Ameno, 1749, p. 220.
(4) Relativo à expedição entre 1541 e 1542, em que atiçava a curiosidade da monarquia espanhola, sugerindo que poderia ter visto mulheres guerreiras às margens do rio. 


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