quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Por que espartanos não usavam tochas para iluminar o caminho à noite

Devido à quase completa escuridão que caracterizava a maior parte das cidades antigas desde que o sol se punha, quem precisava sair de casa à noite devia levar uma tocha para iluminar o caminho, tarefa que, com frequência, era delegada a um escravo. Um pouco de luz não só evitava ferir os pés com alguma pedra ou tropeçar em um buraco, como desestimulava algum encontro desagradável. Esses problemas, como se sabe, não são recentes.
Espartanos, porém, não usavam tochas à noite. Para entender o caso é preciso saber que, pelas leis atribuídas a Licurgo, ninguém, em Esparta, tinha permissão para cear em casa. Quem o fazia era visto como um perturbador da ordem social imposta a todos os cidadãos, que determinava refeições públicas bastante frugais. O quotidiano de Esparta era uma contínua preparação para a guerra. Tendo já anoitecido, encerrava-se a refeição coletiva e cada um podia voltar ao lugar em que residia. Mas, para isso, também havia uma restrição que se dizia ter vindo de Licurgo, segundo explicou Plutarco (¹): "[...] não era permitido que no caminho para casa [depois da ceia] e nem em outras ocasiões à noite, [espartanos] iluminassem as ruas com tochas, para que, a despeito de qualquer perigo que encontrassem pela frente, se habituassem a andar sem medo no escuro (²)." 
Ataques de surpresa, à noite, eram comuns em guerras da Antiguidade. Soldados que tivessem medo da escuridão tornar-se-iam, portanto, um problema para qualquer exército. Não seria razoável para Esparta, militarista como era, que se perdesse a oportunidade de exercitar continuamente os sentidos daqueles de quem se esperava que, nos campos de batalha, superassem a todos os demais guerreiros.

(1) Nascido em Queroneia em c. 45 d.C.
(2) PLUTARCO, Vitae parallelae. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.


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