quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A produção de frutas de origem europeia e asiática no Rio Grande do Sul na primeira metade do Século XIX

Referindo-se ao Rio Grande do Sul, o Padre Ayres de Casal escreveu, em obra publicada em 1817:
"As árvores frutíferas da Europa meridional prosperam aqui melhor que as comuns dentre os trópicos; nenhumas são tão fecundas e tão prodigiosamente multiplicadas como os pessegueiros. A videira frutifica com abundância e perfeição, mas o vinho não merece ainda o nome de passageiro; também ainda não se fizeram as diligências para o melhorar." (¹)
Concordando com ele, seu contemporâneo, o naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, com a experiência de seus conhecimentos de Botânica, aliada ao fato de estar presente à região descrita, observou, em relação às adjacências de Porto Alegre:
"As amendoeiras, os pessegueiros, as ameixeiras, as macieiras, as pereiras e as cerejeiras desenvolvem-se muito bem nos arredores de Porto Alegre, produzindo bons frutos; mas só um número reduzido de pessoas se dedica a essas plantações e, em geral, as espécies trazidas para aqui são de qualidade inferior. Plantaram-se algumas oliveiras que produziram muito bons frutos, mas em pequena quantidade. A vinha medra muito bem; há quem fabrique vinho, mas de qualidade inferior e sem aceitação." (²)
Voltaria, mais tarde, a tratar do cultivo de oliveiras:
"As oliveiras dão muito bem nos arredores de Porto Alegre e, ali, pude comer deliciosas azeitonas; contudo, não passam de objeto de curiosidade; mas quando a população aumentar e o número de propriedades tornar-se maior, a cultura da oliveira poderá vir a ser para esta região uma nova fonte de renda." (³)
Ora, como todo mundo sabe, as oliveiras são, mesmo hoje, de pequeno cultivo no Brasil, embora experiências significativas estejam produzindo alguns bons resultados. Já é possível encontrar no mercado azeite de muito boa qualidade, de produção integralmente brasileira, embora esteja, pela escala diminuta em que se produz, ainda restrito ao âmbito de uma curiosidade - como as azeitonas que o naturalista francês provou. Já quanto aos vinhos, não se pode dizer o mesmo. O progresso tem sido notável.
Acertadamente observou Saint-Hilaire: "A falta de braços impede atualmente que os brasileiros aproveitem todos os recursos que o país oferece, mas será bom que os conheçam, para que possam aproveitá-los no momento oportuno." (⁴) Note-se que esse conselhinho nada desprezível se escreveu no início do terceiro decênio do século XIX.

(1) CASAL, Manuel Ayres de. Corografia Brasílica, vol. 1. Rio de Janeiro: Impressão Régia, 1817, p. 119.
(2)SAINT-HILAIRE, A. Viagem ao Rio Grande do Sul. Brasília: Ed. Senado Federal, 2002, p. 58.
(3) Ibid., p. 77.
(4) Ibid.


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