quarta-feira, 20 de março de 2024

Como Heródoto descreveu Babilônia

Imaginava-se que Babilônia seria assim,
antes que escavações arqueológicas a partir
do Século XIX revelassem mais sobre ela (²) 
Muitas cidades da Antiguidade destruídas em guerra foram, depois, reconstruídas. As ruínas eram trituradas e, sobre elas, a nova cidade era erguida. Sucessivas guerras e destruições acabavam criando uma colina artificial, formada pelo entulho acumulado, uma reconstrução após outra. 
A Babilônia que Heródoto conheceu no Século V a.C. já estava decadente. Fora conquistada em 539 a.C. pelos exércitos de Ciro, o Grande. Mas continuava a existir, como lembrança do esplendor que tivera nos dias de Nebuckadnezar II (¹).
Voltemos a Heródoto. Foi assim que ele descreveu Babilônia, afirmando que tinha a forma de um quadrado e que estava situada em uma grande planície:
"Babilônia é cortada pelo rio Eufrates, um rio extenso, profundo e de correnteza veloz [...]. A muralha que cerca as duas partes da cidade corre até chegar ao rio, onde começa uma parede de tijolos cozidos, que segue pela margem. A cidade está repleta de casas com três e até quatro andares e é atravessada por ruas retilíneas, tanto as que existem no sentido do comprimento como as que cruzam por elas e chegam até o rio. Cada rua que chega ao rio tem uma porta de bronze que permite acesso às margens do Eufrates, e, dessa forma, há uma porta para cada bairro existente entre as ruas." (³)
Assim como tantas outras, a cidade de Babilônia também passou por destruições e reconstruções. Mas sobreviveu para, finalmente, ser alvo de um projeto urbanístico e estratégico avançadíssimo para os padrões da Antiguidade. Além da muralha externa de estrutura complexa, era rodeada por um fosso profundo e largo, com o propósito de torná-la virtualmente inexpugnável.  A descrição feita por Heródoto demonstra que foi planejada, ao contrário de muitas povoações da época, que surgiam e cresciam ao acaso, fruto da gradual sedentarização.
Como os babilônios poderiam imaginar que alguém teria a ousadia de entrar na cidade através do rio? A confiança de seus habitantes era tanta que teriam esquecido de trancar as famosas portas de bronze que levavam ao Eufrates, e foi por elas que os exércitos de Ciro alcançaram facilmente os bairros, tendo entrado na cidade pelo leito do rio, cujo curso haviam alterado para que o nível da água baixasse. Heródoto afirmou que o mais importante templo da cidade, o de Bel Marduk, ainda existia em seus dias, e no Século IV a.C., a cidade encantou Alexandre Magno, que nela morreu em 10 de junho de 323 a.C. Depois, Babilônia foi, aos poucos, se transformando em um conjunto de ruínas. 

(1) Mais conhecido pela forma helenizada do nome, Nabucodonosor. 
(2) Cf. MALLET, Alllain Manesson. Beschreibung des ganzen Welt-Kreises. Frankfurt am Main, Johann Adam Jung, 1719. A imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog. 
(3) HERÓDOTO, Histórias. O trecho citado foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias


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