Todos aprendemos na escola que a Terra é, teórica e artificialmente, dividida em faixas verticais de 15º cada uma (¹), que são chamadas fusos. Para os leitores mais jovens, eu faria a seguinte comparação: imaginem que a Terra seja mais ou menos como uma laranja, composta por vinte e quatro gomos iguaizinhos - nessa comparação (simplista, mas útil), cada gomo corresponderia a um fuso.
Por convenção, utiliza-se o horário de Londres (²) como ponto de partida para a contagem dos fusos. Assim, o horário teórico de um ponto qualquer na superfície terrestre será dado ao se ter em conta se está localizado a Leste ou a Oeste do Meridiano Principal, bem como a quantos graus de distância.
Parece simples? Periodicamente, o horário de verão complica tudo, assim como outros ajustes, que são feitos por questões práticas - se estritamente seguidos, os fusos com base na divisão em faixas de 15º poderiam muito bem acabar fazendo com que lugares muito próximos, ou mesmo dentro de uma mesma cidade, tivessem horários diferentes. Seria uma calamidade! Então, cada país define a adoção de fusos ajustando-os à conveniência, até porque há países com mais de um fuso (³).
Em quase todo o mundo a contagem do tempo obedece a uma divisão em 24 horas, em que 12 horas correspondem ao meio-dia, e 24, à meia-noite. Assim, no final de cada ano, é de acordo com o fuso relativo a cada lugar que é celebrado o ano-novo: quem está em Tóquio ou em Sidney vai festejar um novo ciclo de trezentos e sessenta e cinco dias antes de quem está em São Paulo ou Los Angeles.
Mas vocês já pensaram, leitores, que a contagem do tempo, do dia e das horas nem sempre obedeceu a esse critério?
Plínio, o Velho, no Livro II de sua Naturalis Historia, relatou que "quanto ao modo como cada um observava os dias, os babilônios contavam entre dois sóis [de um nascer de sol a outro], os atenienses entre dois ocasos [de um pôr de sol a outro], os úmbrios de um meridiano a outro [meio-dia a meio-dia], pessoas comuns [em Roma], da luz às trevas [do amanhecer ao pôr do sol], os sacerdotes romanos e autoridades civis, assim como os egípcios, de meia-noite a meia-noite". (⁴)
Ora, convenhamos, seria uma enorme confusão se, até hoje, cada povo contasse o tempo como bem entendesse. Quando as comunicações entre países eram poucas e difíceis, os fusos talvez não fossem necessários, e cada lugar podia adotar a contagem das horas que lhe caísse no agrado; à medida que as comunicações se intensificaram, os fusos se tornaram imprescindíveis. Sua implantação, portanto, foi ditada não só pela conveniência, mas pela necessidade.
(1) Que se obtém pela divisão de 360° (supondo a Terra uma esfera perfeita) por 24, que é o número de horas de cada dia.
(2) Lembram-se do Meridiano de Greenwhich?
(3) É o caso do Brasil.
(4) O trecho citado de Naturalis Historia foi traduzido por Marta Iansen, para uso exclusivamente no blog História & Outras Histórias.
Veja também:
Se todos os professores explicassem com esta simplicidade e clareza, não tinha porque haver maus resultados académicos.
ResponderExcluirConheço uma pessoa que tem como projecto pessoal passar cada viragem do ano num fuso horário diferente. Será que consegue manter o objectivo durante 24 anos? Veremos, mas que é interessante a ideia, lá isso é...
Abraço, um lindo 2018
Ruthia d'O Berço do Mundo
Essa ideia de virar cada ano em um fuso diferente é genial. Difícil, porém, deve ser executá-la rsrsrssss... Mas, dependendo da profissão que se tem, talvez não seja impossível. Agências turísticas deviam ter pacotes assim, previamente organizados, de longo prazo. A coisa é maluca, mesmo.
ExcluirTenha um 2018 maravilhoso, com muitos posts novos em O Berço do Mundo!!!
Por aqui há um ditado que diz: cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso. É evidente que o fuso referido é diferente, mas não deixa de ser curioso. :)
ResponderExcluirUm abraço, Marta :)
Ora, é claro que o ditado faz referência a um fuso distinto, mas, afinal, não há como negar o vínculo ideológico. Gostei da ideia...
ExcluirTenha um ótimo dia!