terça-feira, 19 de dezembro de 2017

A primeira capela dos capuchinhos franceses no Brasil

Muito semelhante à fundação do Colégio de São Paulo por missionários jesuítas em 1554, o princípio da catequese no Maranhão por capuchinhos franceses foi marcado pela construção de uma capelinha, cuja edificação, concluída na véspera do Natal de 1613, propiciou aos religiosos um lugar mais adequado à celebração da data, já que, antes disso, vinham usando uma espécie de tenda, que não primava pela solidez. A propósito desse acontecimento, o padre Yves d'Évreux registrou:
"Acabou-se esta capela na véspera de Natal e muito a propósito pela devoção que sempre teve o Seráfico Padre São Francisco, a quem era dedicada." (¹)
Lembremo-nos, leitores, apenas de passagem, que a tradição atribui a São Francisco o primeiro presépio, com a intenção de tornar mais vívida a história do Natal para pessoas que, de outro modo, teriam dificuldade para compreender o significado da data. Essa tradição, porém, é difícil de comprovar, aceita mais pela singeleza que encerra que por existência de documentação histórica. Mas vamos adiante, porque o padre d'Évreux fez outras considerações sobre a recém-construída capela, que nos permitem saber que, além dos capuchinhos, compareceram aos ofícios religiosos os franceses que, àquela altura, tentavam estabelecer uma colônia no norte do Brasil:
"Na verdade enchia-me de imenso prazer vendo nesta capelinha, feita de madeira, coberta de folhas de palmeiras, mais semelhante ao presépio de Belém do que esses grandes e preciosos templos da Europa, os nossos compatriotas franceses cantarem os salmos e matinas desta noite, e depois de purificados pelo sacramento da penitência receberem o mesmo Filho de Deus no presépio de seus corações, envolvido nas faixas do Santíssimo Sacramento do altar." (²)
Leitores de propensões poéticas talvez considerem que é ingenuamente belo esse relato de Yves d'Évreux. Não se pode deixar de notar, todavia, que, para além da celebração do Natal, a presença de franceses em um território que Portugal considerava sua propriedade iria opor, ali, soldados de duas nações cristãs, os quais, sendo necessário, não poupariam a vida dos inimigos, com o objetivo de assegurar à Coroa que defendiam o domínio de um pedaço de terra a mais na América do Sul. Como sucinta conclusão, basta lembrar que, neste caso, Portugal venceu.

(1) D'ÉVREUX, Ivo. Viagem ao Norte do Brasil Feita nos Anos de 1613 a 1614. Maranhão: Typ. do Frias, 1874, p. 10.
(2) Ibid., pp. 10 e 11.


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4 comentários:

  1. Bom dia Dr. Marta! Muito bom o testo! Confesso que tinha esquecido, destas demarcação territoriais e datas históricas relevantes!..

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    1. Pouca gente estudou ou estuda esse assunto. Existe uma razão para isso, e é que, após a Independência em 1822, o governo imperial precisou enfrentar várias rebeliões separatistas. Portanto, não era muito conveniente ficar lembrando aos estudantes que o Brasil já tivera mais de um governo. Como, mais tarde, o material didático se inspirou naquilo que se produziu no Século XIX, esses fatos andaram meio esquecidos, ainda que não intencionalmente. E há, também, o fato de que, cada vez mais, o ensino de História vai se tornando superficial (o que é muito ruim, eu acho).

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  2. Marta, no último parágrafo toca num assunto que, por aqui, embora de forma subtil, também se vai acentuando: a menor importância que se dá ao ensino da História. Será que, nas suas estratégias, os novos poderes consideram que as memórias dos povos são um óbice à implementação dos comportamentos que desejam?

    Um bom final de semana :)

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    1. Não sei quanto a Portugal, mas no Brasil existe, há muito tempo, certa disputa por espaço nos currículos escolares. Há, por exemplo, quem defenda uma escolarização centrada nas ciências exatas, porque o país precisa formar gente para áreas tecnológicas; e, com algum pretexto, argumentos semelhantes são levantados para os demais campos do saber.
      A explicação para isso é complexa, indo dos interesses políticos (para evitar a formação de cidadãos demasiado conscientes rsrssss), às questões ligadas ao mercado de trabalho para profissionais do ensino. À mercê de tais embates, os jovens estudantes deixam de receber uma formação geral equilibrada, capaz de estimular a busca contínua pelo conhecimento e a descoberta de novos talentos.

      Tenha um ótimo final de semana e um Natal muito feliz!

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