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quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Preparando as ruas da vila de São Paulo para os festejos do Natal

Quem anda pelas ruas logo percebe que, nesta época do ano, são intensos os preparativos para as festas de Natal e Ano-Novo. Vitrines estão repletas de luzes e produtos convidativos. A decoração, a seu modo, aquece o coração das pessoas que, com certa sensação de felicidade, se dispõem a gastar mais.
Com a ajuda da imaginação, voltemos ao começo do Século XVII, para ver o que acontecia na pequena vila de São Paulo, quando Natal e Ano-Novo se aproximavam. A vida era simples e rústica, como só poderia ser na povoação encarapitada no planalto e que apenas podia ser alcançada, vindo do litoral, por quem se dispunha a escalar o complicado Caminho do Mar. Muito de sua população vivia, durante a semana, não na vila, propriamente, mas nas fazendas e aldeias das redondezas. Aos domingos e feriados, para ouvir missa, é que essa gente punha os pés em São Paulo. Portanto, para que a vila não fizesse má figura durante as celebrações de final de ano, os oficiais da Câmara, naquele distante 1602, mandaram que uma providência essencial fosse tomada de imediato:
"Aos quatorze dias do mês de dezembro de mil e seiscentos e dois anos, nesta vila, na casa da Câmara dela, estando aí os oficiais da Câmara José de Camargo e Francisco da Gama, vereadores, e Francisco Velho, juiz, e João de Santana, procurador, [...] acordaram o seguinte, que se mandasse lançar pregão que carpam as ruas para a festa [...]." (¹)
Pensem comigo, leitores: se era preciso carpir as ruas para a festa, como eram elas habitualmente? Eram os próprios moradores que executavam o trabalho de manutenção, fazendo-o por si mesmos ou por meio de seus escravos ou "administrados" (²). A Câmara era pobre, muito pobre, como já mostrei em outros textos neste blog, e não dispunha de funcionários para fazer a conservação de áreas públicas. Ao menos neste caso, a religiosidade imperante na época devia ser motivo para que a limpeza das ruas se fizesse sem muitos protestos. Era o espírito do Natal em ação, à moda colonial.

(1) Este trecho de ata da Câmara de São Paulo foi transcrito na ortografia atual, com acréscimo da pontuação indispensável à compreensão.
(2) "Administrado" era um eufemismo legalmente utilizado na época para se referir ao indígena que, na prática, era escravizado por um colonizador.


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terça-feira, 25 de dezembro de 2018

A celebração do Natal durante a expedição missionária do padre Antônio Vieira em 1653

Véspera de Natal, 1653: uma expedição percorre o rio Tocantins. Para os jesuítas que dela participam, o objetivo é estabelecer contato com indígenas que pretendem catequizar. Mas vão também colonizadores, e estes têm outras ideias (¹). A data, porém, pede celebração. Mas, que fazer, em meio à floresta?
A simplicidade deu o tom, pelo que se depreende de um relato feito pelo padre Antônio Vieira, que liderava os missionários jesuítas:
"Tínhamos determinado fazer alto neste dia mais cedo que nos outros, para gastar toda a tarde em adereçar uma capela de palma, em que celebrar com mais decência os mistérios desta sagrada noite, mas não tivemos lugar para mais que de engenhar uma pequena choupana mal coberta com as toldas das canoas, aonde armamos o nosso altar. [...]." (²)
Aos missionários não ficou sequer a alegria de celebrar missa com todos reunidos. É que uma das canoas não acompanhou o ritmo das demais, conforme explicação do próprio Vieira:
"Não nos achamos juntos mais que os padres Francisco Veloso, Manoel de Sousa e eu, porque o padre Antônio Ribeiro com a sua canoa não pôde avançar tanto, e ficou em outro lugar, aonde também aportaram algumas canoas que não estavam conosco, e por esta tardança e apartamento vieram uns e outros a ter a consolação da santa missa aquela noite." (³)
Desse modo, a ocasião foi marcada pela celebração de missas e por uma refeição muito simples - quem esperaria encontrar uma autêntica ceia de Natal em meio às águas e matas ainda desconhecidas para europeus? Sigamos com as informações do padre Vieira:
"O padre Antônio Ribeiro contentou-se só com a água sem farinha, os demais [...] não tiveram mais sobre a farinha que um pouco de peixe seco, mas Deus tempera de maneira estes regalos que os não trocarão os que gostam deles pelos maiores do mundo. O trabalho tão extraordinário de todo o dia parece pedia o descanso da noite, mas toda ela se passou em vela sobre a terra nua da choupana, oferecendo cada um ao Menino nascido não só os desamparos de seu Belém, mas as saudades da devoção e concerto que esta santa noite celebra nos colégios da Companhia. À meia-noite dissemos três missas, que todos ouviram, as demais se disseram às suas horas, e no dia comungaram alguns portugueses e alguns índios." (⁴)
Entre preces e reflexões que talvez não ousassem compartilhar, missionários passaram as horas do Natal. Fatigados pela viagem, a mente inquieta pelo temor quanto às péssimas intenções de alguns integrantes da expedição, deram as boas-vindas a algum repouso. Concluindo o informe desse Natal atípico, Vieira escreveu: "Por celebridade do dia não fizemos jornada nele [...]." (5)

(1) A ideia, óbvia para quem conhece alguma coisa sobre a conduta dos colonizadores da época, era escravizar indígenas.
(2) Cf. MORAES, José de S.J. História da Companhia de Jesus na Extinta Província do Maranhão e Pará. Rio de Janeiro: Typographia do Commercio, 1860, p. 467.
(3) Ibid.
(4) Ibid.
(5) Ibid.


terça-feira, 19 de dezembro de 2017

A primeira capela dos capuchinhos franceses no Brasil

Muito semelhante à fundação do Colégio de São Paulo por missionários jesuítas em 1554, o princípio da catequese no Maranhão por capuchinhos franceses foi marcado pela construção de uma capelinha, cuja edificação, concluída na véspera do Natal de 1613, propiciou aos religiosos um lugar mais adequado à celebração da data, já que, antes disso, vinham usando uma espécie de tenda, que não primava pela solidez. A propósito desse acontecimento, o padre Yves d'Évreux registrou:
"Acabou-se esta capela na véspera de Natal e muito a propósito pela devoção que sempre teve o Seráfico Padre São Francisco, a quem era dedicada." (¹)
Lembremo-nos, leitores, apenas de passagem, que a tradição atribui a São Francisco o primeiro presépio, com a intenção de tornar mais vívida a história do Natal para pessoas que, de outro modo, teriam dificuldade para compreender o significado da data. Essa tradição, porém, é difícil de comprovar, aceita mais pela singeleza que encerra que por existência de documentação histórica. Mas vamos adiante, porque o padre d'Évreux fez outras considerações sobre a recém-construída capela, que nos permitem saber que, além dos capuchinhos, compareceram aos ofícios religiosos os franceses que, àquela altura, tentavam estabelecer uma colônia no norte do Brasil:
"Na verdade enchia-me de imenso prazer vendo nesta capelinha, feita de madeira, coberta de folhas de palmeiras, mais semelhante ao presépio de Belém do que esses grandes e preciosos templos da Europa, os nossos compatriotas franceses cantarem os salmos e matinas desta noite, e depois de purificados pelo sacramento da penitência receberem o mesmo Filho de Deus no presépio de seus corações, envolvido nas faixas do Santíssimo Sacramento do altar." (²)
Leitores de propensões poéticas talvez considerem que é ingenuamente belo esse relato de Yves d'Évreux. Não se pode deixar de notar, todavia, que, para além da celebração do Natal, a presença de franceses em um território que Portugal considerava sua propriedade iria opor, ali, soldados de duas nações cristãs, os quais, sendo necessário, não poupariam a vida dos inimigos, com o objetivo de assegurar à Coroa que defendiam o domínio de um pedaço de terra a mais na América do Sul. Como sucinta conclusão, basta lembrar que, neste caso, Portugal venceu.

(1) D'ÉVREUX, Ivo. Viagem ao Norte do Brasil Feita nos Anos de 1613 a 1614. Maranhão: Typ. do Frias, 1874, p. 10.
(2) Ibid., pp. 10 e 11.


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sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Um banquete de Natal fora do comum

Era o ano de 1788, e o astrônomo Francisco José de Lacerda e Almeida, a serviço de Sua Majestade, o Rei de Portugal, andava a correr terras e águas do Brasil, com o propósito de demarcar fronteiras, traçar mapas e reconhecer territórios. 
A vida dos que compunham a sua expedição não tinha facilidades. Horas e horas dentro de canoas, noites sob chuva (de água, às vezes; de mosquitos, quase sempre). Sol escaldante durante as horas dos dias claros, trovoadas, cachoeiras perigosas, até mesmo falta de comida e de água potável. Doenças desconhecidas e letais, picadas de cobras e aranhas. Tinha-se o caldo de cultura perfeito para os mais terríveis pesadelos da vida real.
Chegou dezembro e, com ele, o Natal. A expedição percorria o rio Tietê, fazendo viagem inversa à dos monçoeiros que seguiam para Cuiabá. Em seu diário, no dia 26 de dezembro, Lacerda escreveu:
"Neste dia naveguei 4 1/2 léguas por me demorar 5 1/2 horas em matar e esperar que surgisse do fundo do rio uma anta, que no fim de 4 horas apareceu com grande alegria de todos, em que eu também tive parte, por ter com que fazer o meu banquete do post diem do Nascimento do Nosso Redentor [...]."
Passou, em seguida, a explicar em que consistiu o banquete do dia de Natal propriamente dito:
"[...] O de ontem consistiu no panem nostrum quotidianum, que é feijão capaz ainda de ter filhos e netos, e em bugio cozido, e em bugio com arroz, e em bugio moqueado (*), cujo papo comi por ser a parte mais saborosa."
Pobres bugios... A despeito dos obstáculos que vinha enfrentando, Lacerda preservava algum senso de humor. 
Como que mudando de assunto, mas retornando ao princípio, ainda observou:
"Todos os rios desde o Coxim inclusive, entrando também o Tietê, têm muita abundância de antas, chamadas ruças, que são da grandeza de uma mediana vaca, e no gosto muito melhores."
Creio que ninguém terá dificuldade em compreender as preferências gastronômicas do astrônomo Lacerda, à luz, afinal de contas, da escassez que reinava nas expedições do Século XVIII que iam ao interior do Brasil. Essas viagens eram tão perigosas que aqueles que delas saíam vivos bem podiam olhar para si mesmos como personagens de muita sorte. 

(*) Tipo de churrasco à moda indígena.


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quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

A celebração do Natal por missionários jesuítas e indígenas catequizados em São Paulo de Piratininga

Os jesuítas, a despeito de métodos inovadores que eventualmente empregavam na catequese, procuravam conformar os catecúmenos às práticas da Igreja quanto ao calendário litúrgico e à administração dos sacramentos. É o que se nota em uma carta escrita em São Paulo de Piratininga por José de Anchieta, em fins de dezembro de 1556, na qual descrevia práticas associadas à celebração do Natal:
"Antes do dia do Nascimento do Senhor procuramos que [os indígenas] se confessassem, o qual fizeram muitas mulheres e alguns homens, os quais diligentemente examinamos nas coisas da fé, e o que principalmente pretendemos é que saibam o que toca aos artigos da fé, scilicet ao conhecimento da Santíssima Trindade e aos mistérios da vida de Cristo que a Igreja celebra, e que saibam, quando lhes for perguntado, dar conta destas coisas [...]." (¹)
Anchieta diria ainda:
"Neste mesmo tempo do Nascimento do Senhor se confessaram e comungaram muitas mulheres mestiças com muita devoção, o qual em outros tempos muitas vezes fazem." (²)
O que se pode observar é que a catequese não ficava restrita aos indígenas, mas tinha também como objetivo, tanto quanto fosse possível, alcançar o restante da população da aldeia de Piratininga, como se vê pela referência a "mulheres mestiças", ainda que nem sempre os colonizadores estivessem dispostos a dar atenção aos padres da Companhia (³). Em todo caso, era mais frequente que, dentre a população livre, as mulheres se mostrassem mais devotas, embora os homens, até por obrigação social, não deixassem de comparecer aos ofícios religiosos em ocasiões de maior importância. Também quanto à menção de Anchieta relativamente às "mulheres mestiças", será útil recordar que eram poucas, ou melhor, pouquíssimas as mulheres que, nesse tempo, vinham do Reino para viver no Brasil, de modo que não era incomum que colonos portugueses em Piratininga se casassem com índias, nem sempre sob as leis da Igreja. Desses casamentos nasciam os chamados mamelucos, que, nos primeiros séculos de São Paulo, viriam a ser a maioria da população.

(1) ANCHIETA, Pe. Joseph de, S.J. Cartas, Informações, Fragmentos Históricos e Sermões. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1933, p. 93.
(2) ANCHIETA, Pe. Joseph de, S.J. Op. cit., p. 94.
(3) Não eram incomuns os atritos entre padres e colonizadores, tendo por principal razão as objeções que os jesuítas faziam à escravização de indígenas.


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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A celebração do Natal no Brasil do Século XIX

O tipo de celebração do Natal que alguém escolhe depende, ao menos em parte, da tradição religiosa que se tem (ou que não se tem). Em um país multicultural como é o Brasil, existe um verdadeiro amálgama de costumes relacionados aos festejos natalinos, formado principalmente a partir do enorme afluxo de imigrantes desde fins do século XIX até cerca da metade do século XX. Disso resulta uma grande variedade de tradições quanto aos alimentos típicos da data, aos hábitos no presentear e, talvez por algo que já tenha sido uma certa nostalgia da terra de origem, uma tentativa de reviver no verão do Hemisfério Sul o inverno europeu, tentativa essa que, reforçada por interesses comerciais, resulta, às vezes, em hilariantes espetáculos de neve artificial sob o mais tórrido sol de dezembro. Isso explica, também, porque em muitos presépios, por exemplo, as personagens vestem trajes típicos do início da era moderna, não relacionados, pois, às origens do Natal.
Como descobrir, no entanto, quais eram, no Brasil, os hábitos associados ao Natal antes disso, antes que o fenômeno da imigração e a aceleração das comunicações tornasse a celebração do Natal um tanto padronizada, ao menos no Ocidente?
Há vários caminhos possíveis, e seguiremos, nesta postagem, dois deles: as imagens da época e a literatura.
Começando pela literatura, selecionei dois trechinhos, um de Alencar, outro de Machado. O primeiro deles, que aparece em O Tronco do Ipê, é interessantíssimo por mostrar toda a azáfama da preparação da festa de Natal em um ambiente rural, de fazenda - quase podemos ver a alegria dos que preparam enfeites, a pressa de quem trabalha na cozinha (o que nos permite investigar o que seria servido); quase podemos ouvir o som das músicas que vão sendo ensaiadas. É só ler:
"Era antevéspera de Natal. Na Casa Grande tudo estava em movimento e rebuliço com os preparativos da festa. À exceção da baronesa, a quem nada podia arrancar de sua fleuma desdenhosa, cada uma das pessoas da fazenda se ocupava em qualquer dos vários arranjos para a função do Natal que esse ano prometia ser ainda mais chibante do que de costume.
Alice, que dirigia os aprestos, distribuíra a cada um sua tarefa, da qual não escaparam nem o dono da casa, nem os hóspedes. O barão fora encarregado de escrever nos rótulos de prata das garrafas os nomes dos vinhos e fazer as encomendas para a Corte. O conselheiro devia dar uns versos para a cantiga do Natal. D. Luísa e Adélia recordavam ao piano as músicas de canto e dança. D. Alina se incumbira do arranjo dos quartos para os convidados. Lúcio e Frederico, armados ambos de tesoura, recortavam papel dourado, prateado e de várias cores, destinado a fazer rosetas para os castiçais, ou mangas para os presuntos e pernas de carneiro."
(¹)

Muito significativo, não? O segundo trecho que escolhi aparece em um conto de Machado de Assis,  e traz em si a revelação de que, ao menos em alguns casos, até mesmo os escravos podiam ser incluídos na celebração de Natal, recebendo algum presente, ainda que modesto:
"Quatro dias antes do dia marcado para o meu casamento, era a festa do Natal. Minha mãe costumava dar festas às escravas. Era um costume que lhe deixara minha avó. As festas consistiam em dinheiro ou algum objeto de pouco valor." (²)
Finalmente, no que se refere às imagens de época, há uma gravura muito curiosa e, para nossos olhos do século XXI, até divertida. É de Debret, e tem por título "Presentes de Natal" (³):


(1) ALENCAR, José de. O Tronco do Ipê.
(2) ASSIS, J. M. Machado de. Mariana.
(3) DEBRET, J. B. Voyage Pittoresque et Historique au Brésil vol. 3. Paris: Firmin Didot Frères, 1839. 
O original pertence à Brasiliana USP; a imagem foi editada para facilitar a visualização neste blog.


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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Peru de Ação de Graças, peru do Natal


Deixar o lar na Europa e ir estabelecer-se em terras desconhecidas na América do Norte era uma enorme aventura, quase uma temeridade, nos anos vinte do século XVII. Entretanto, os chamados "pais peregrinos" o fizeram, e deviam ter bons motivos para isso - entre eles, fugir da perseguição religiosa que vinham enfrentado.
Ora, leitor, o primeiro ano na América foi terrível. Ao final dele (1621), entretanto, os sobreviventes resolveram agradecer pelo que tinham, fundando a prática do Dia de Ação de Graças, celebrado anualmente nos Estados Unidos. Em círculos mais restritos, comemora-se também no Brasil e em muitos outros lugares.
Pois bem, para festejar a data, esses colonos lançaram mão do pouco que havia, produto de suas colheitas ou caça disponível, e é aí que entraram em cena os perus: perus selvagens, aves nativas da América, desde o México até o Canadá, a ponto de, infelizmente para elas, virarem símbolo da data.
Na Europa, há suficientes evidências de que, trazidas pelos primeiros exploradores, os perus já eram conhecidos desde o século XVI e, sendo domesticadas, essas aves fizeram enorme sucesso devido à carne, considerada excelente.
No Brasil os perus foram, gradualmente, incorporados às tradições das festas de dezembro, Natal e Ano Novo. E, para se ter uma ideia do valor atribuído a essas aves (pior para elas, mais um vez), há vários registros de preços praticados em São Paulo em diferentes épocas. Temos os valores de outros itens de consumo, para efeito de comparação:

Em 1685:

Dúzia de ovos......................................................10 réis
Um pato................................................................40 réis
Uma perua...........................................................160 réis

c. 1700:

Um casal de pombos........................................160 réis
Três peruas e um peru.....................................640 réis (¹)

Um outro registro, de 1886, aponta os seguintes preços (²):

Quilograma de carne bovina, em média........................... 320 réis
Dúzia de ovos........................................................................ 500 réis
Uma galinha........................................................................... 650 réis
Um peru.................................................................................. 5.000 réis

Deve-se considerar que a enorme variação de preços tem, entre outras causas, a inflação decorrente da descoberta das minas de ouro nas Gerais e, mais tarde, em Goiás e Mato Grosso, disso decorrendo uma elevação sensível na demanda por suprimentos para os que viviam e trabalhavam nas lavras.


(1) Cf. TAUNAY, Affonso de E. História da Cidade de São Paulo. Brasília: Ed. Senado Federal, 2004, p. 108.
(2) Ibid., p. 346.


Anúncio de ovos de peru, Revista A Cigarra, edição de
1º de agosto de 1914

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